a capital, columbia, só em 2000 retirou do capitólio a bandeira da confederação. em columbia respiram-se todos os mitos do sul vencido mas não convencido: aqui foi editada até 2008 a southern partisan, uma revista política e cultural sulista e aqui tem sede a scv, sons of confederate veterans, uma associação com milhares de sócios. e vêm-se t-shirts com as bandeiras de guerra da confederação, com robert lee e outra memorabilia dos generais e soldados do sul. é dixieland.
em dixieland, agora, newt gingrich derrotou mitt romney, o candidato do establishment, para a nomeação republicana. como conseguiu esta vantagem quando as sondagens uma semana antes o davam vencido?
a carolina do sul é um estado conservador mas gingrich tinha à partida dificuldade entre os eleitores cristãos – católicos, evangélicos e outras igrejas protestantes – para explicar a sua vida familiar, com dois divórcios e uma acusação de adultério por uma das ex-mulheres. além disso, havia também acusações de mau comportamento em matéria financeira na sua passagem pelo congresso como líder da maioria republicana.
dado o ênfase nos valores familiares e a importância da honorabilidade pessoal para os eleitores americanos o candidato era passível de incoerência, de hipocrisia, de pregar uma coisa e dizer outra.
os inimigos montaram-lhe na véspera da eleição a emboscada, com uma ressentida ex-cônjuge, a acusá-lo na tv de lhe ter proposto um ‘casamento aberto’: continuaria em casa, mas teria uma relação extramatrimonial com o conhecimento e o consentimento dela.
gingrich negou o ‘casamento aberto’ mas admitiu o adultério, que já era conhecido e tinha sido explorado pelos media na época. afirmou que já pedira perdão a deus e indignou-se que fosse essa a primeira pergunta do apresentador john king.
pelo resultado não se saiu mal. gingrich, além de ter ideias, é um excelente challenger e um terrível adversário nos debates. ganhou, aguentou-se e bateu romney por mais de dez pontos.
a vitória de gingrich é sobretudo a derrota de romney. apesar dos seus esforços de ganhar credibilidade entre os conservadores, romney não convence: consideram-no inseguro, moderado, um ‘liberal’, isto é um progressista, com posições oscilantes quanto ao aborto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo. o que para o eleitor republicano médio é pecado mortal.
além disto, romney é rico, muito rico e foi um homem de negócios bem (ou mal) sucedido. a sua rejeição reflecte também o estado de revolta dos republicanos da carolina do sul contra alguém que não consideram um dos ‘seus’. é um sentimento populista contra as elites de washington, os republicanos country club, os jornalistas, os super-ricos que não pagam impostos ou pagam menos impostos que a classe média. (romney também se embrulhou nesta matéria e paga só 15%).
nestes tempos de desemprego alto, insegurança económica, perda de influência no mundo, a direita americana não quer um centrista convertido por interesse (ainda por cima mórmon) para a guiar contra ‘o faraó’ ímpio da casa branca, a encarnação de todos os males – obama. que não será assim tão mau, mas que além de charme e oratória fez pouco…
num gesto de ‘razão de estado’ perdoaram a gingrich os seus pecados. no clima em que vão correr as eleições, um conservador convicto, populista e agressivo, mesmo pecador, tem mais possibilidades que um moderado que, próximo de obama, pode ser e parecer mais do mesmo. e aí fica quem está.