O perdão a Passos

Pedro Passos Coelho reiterou esta semana que Portugal não vai pedir nem mais tempo nem mais dinheiro à troika, mantendo-se focado em cumprir as metas do défice e as reformas em curso.

o primeiro-ministro lembrou que os nossos credores já admitiram ‘socorrer’ os países resgatados ‘bem comportados’ – portugal e irlanda – se, por razões que lhes sejam externas, tiverem dificuldades de financiamento nos mercados após os programas de assistência. é importante a mensagem de passos, numa altura em que começam a surgir rumores, notícias e declarações, incluindo no seio do governo, que apontam para a eventual necessidade de um segundo ‘pacote’ de ajuda a portugal.

numa análise descuidada, ou demagógica, poderíamos comparar a recusa de passos em admitir que podemos precisar de mais ajuda à ‘teima’ de sócrates na fase que antecedeu a vinda da troika. na altura, como nos recordamos, o então primeiro-ministro recusava ver o que era óbvio, mantendo-se ‘orgulhosamente só’ até ao ponto em que os banqueiros e o ministro das finanças, teixeira dos santos, lhe tiraram o tapete, forçando o pedido de ajuda. mas a verdade é que dificilmente poderemos vir a acusar passos de estar desligado da realidade, como esteve sócrates, porque mais dificilmente ainda podemos comparar a imagem do país de hoje com a de há um ano. se precisarmos de mais ajuda, não será, muito provavelmente, por culpa do governo, mas da falência grega e, sobretudo, da inépcia europeia. os portugueses não cobrarão a passos um novo ‘pacote’. mas deixarão de confiar nele se não chegar o crescimento após tanta austeridade. é essa a dívida do governo para connosco. e honrá-la é talvez um desafio bem mais difícil do que pagar as prestações dos créditos que o país pediu.

ricardo.d.lopes@sol.pt