sexta-feira (emprego bom já) foi o tema escolhido, «de forma intencional», para levantar o véu do novo trabalho de boss ac. não é hip-hop e o músico e produtor sabe-o.
«independentemente de as pessoas gostarem ou não, é diferente. se a música começasse e eu não cantasse ias pensar que aquela música era de outra pessoa qualquer. e isso interessa-me, porque gosto de evoluir e trazer coisas novas. este single diz logo: estou aqui, álbum novo, música nova, vêm aí coisas novas», disse boss ac em entrevista à lusa.
ac para os amigos mostra «um lado mais acústico, tem mais banda, o que é a grande diferença dos outros álbuns».
apesar disso, é «sem dúvida» um disco de hip-hop. «mas é um disco do meu hip-hop, da minha visão mais vasta do que é o hip-hop», disse.
o primeiro registo discográfico de boss ac data de 1994. nesse ano, o músico integrou rapública, uma colectânea de artistas portugueses de hip-hop.
desde então, sempre incorporou «vários elementos» na música que criou e tem «vindo a acentuar essa melomania, o gostar de músicas de várias tendências».
«cada vez mais assumo esse ecletismo e acho que este álbum reflecte bem isso. um disco de hip-hop que gravita à volta de outras sonoridades, de várias outras influências», referiu.
a diferença entre ac para os amigos e os discos anteriores é que «este provavelmente será mais explícito e mais fácil de perceber».
outra coisa que este álbum tem e o último, preto no branco, de 2009, não tinha é «um lado acústico muito mais presente». «a banda está presente em cerca de metade dos temas e torna-se mais fácil perceber esse ecletismo», afirmou.
nos onze temas que compõem o disco, alguns «vão beber ao gospel e ao soul», outros «têm influências da música popular portuguesa», outros ainda «lembram o brasil» e «um lado latino».
«e essas coisas todas acabam por fazer sentido porque há qualquer coisa em comum, e a essência é a mesma, que sou eu e a minha visão», defendeu.
isso nota-se nos convidados. no álbum participa o coro de gospel shout, rui veloso, o cubano raul reyes, débora gonçalves e o brasileiro gabriel o pensador.
além de interpretar as canções, boss ac é também produtor, autor e compositor.
«uma das minhas prioridades é mostrar a minha visão. a produção, apesar de ser um trabalho coordenado por mim, acaba por ser de grupo, porque há sempre troca de ideias com a banda», disse.
em alguns temas, ac aborda a crise e o desemprego,«de certa forma é crítica, mas é mais uma visão». um retrato que o músico faz do que vê e vive, em que «a parte da [música de] intervenção está presente».
«o hip-hop é um veículo privilegiado para o fazer, pela forma directa, crua e objectiva como fala das coisas e a minha forma de escrever é muito incisiva. o ‘sexta-feira’, apesar de ser uma música bem-disposta e alegre está a falar de uma coisa séria, de um momento delicado do país», disse.
ac para os amigos será apresentado oficialmente ao vivo a 1 de março, em lisboa. a digressão de apresentação está marcada para abril e maio.
perto de completar 20 anos de carreira, boss ac considera que foi a «muita perseverança» que lhe permitiu chegar onde está hoje.
«passei por fases difíceis desde que, em 1997, decidi viver da música, ainda mais hip-hop. contra tudo e contra todos consegui vingar».
o músico acredita que isso se deve também à coerência. «tenho-me mantido coerente desde o início», assegura boss ac, um gajo normal que faz música para os amigos.