Desenhar Sonhos

Há cinco anos, a designer Pureza Mello Breyner deixou o trabalho numa grande marca portuguesa para abrir o seu próprio ateliê. Os vestidos de noiva são a sua especialidade.

o primeiro vestido de noiva que pureza mello breyner criou foi o seu. desde criança que tinha na cabeça a ideia para aquele que é o dia mais importante da vida de muitas mulheres. mas nessa altura ainda estava longe de pensar que o seu futuro seria justamente esse – a fazer vestidos de noiva.

sempre quis «ser estilista», mas os seus planos estavam longe de coincidir com os da família. por isso, quando chegou ‘a hora da verdade’, pureza escolheu psicologia. resistiu apenas um ano, altura em que convenceu a família e mudou para design de moda na escola de moda de lisboa. «é uma escola muito técnica e no primeiro mês já estava a criar». quando terminou o curso, foi estagiar para a quebramar, onde ficou dois anos. mas a chegada do segundo filho (actualmente tem três) fez com que repensasse a sua vida: «queria ter mais tempo para mim. e, ao mesmo tempo, sempre pensei ter uma coisa minha, pois sou controladora compulsiva».

apercebendo-se de que não havia muitos ateliês de vestidos de noivas, começou a fazer vestidos para as amigas e familiares em casa. há cinco anos abriu um ateliê e um blogue e começaram a chegar as clientes ‘desconhecidas’.

como não é uma loja ou um grande ateliê, a relação de proximidade é mais intensa. e pureza, 29 anos, acaba por se tornar cúmplice das suas clientes. «às vezes vou com elas ver o local do casamento, os sapatos, a maquilhagem e cabelos. e já fui convidada para a cerimónia». está sempre atenta às tendências internacionais e gosta particularmente do trabalho de valentino e elie saab. a moda, revela, também influencia o mercado dos vestidos de noiva: «agora as noivas querem ser sexy, já não sonham ser princesas da disney».

o processo começa com um encontro para discutir ideias. «muitas vezes aparecem com fotos e dizem que querem exactamente aquilo, mas nesses casos explico que não sou um serviço de costureira. uma coisa é terem ideias, o que agradeço. o pior são as noivas que não fazem a menor ideia do que querem. e se acho algo horroroso, não faço». a partir deste encontro, a designer cria alguns croquis que envia para a noiva que, se tudo correr bem, escolhe um. seguem-se três a cinco provas, nas quais as noivas mais indecisas vão sempre mudando de ideias. «quanto mais se aproxima a data, pior é. lembro-me de uma noiva que levava uma casaco de peles branco por cima do vestido e, pouco antes, foi a outro casamento em que a noiva levava uma peça semelhante. e o noivo fartou-se de dizer ‘só espero que não me apareças assim!’. ela ligou-me em pânico e tivemos de arranjar uma solução à última hora». a noiva, diz pureza, «quer agradar a todos, mas não se podem esquecer que a última palavra é dela».

por vezes também cria os vestidos da mãe da noiva, das damas de honor. e começa a ser procurada para outro tipo de vestidos. foi o que aconteceu com a prima, a actriz ana brito e cunha, que uma semana antes lhe encomendou um vestido para os globos de ouro. o resultado foi um vestido vermelho, com muito salero, fazendo jus às origens espanholas da actriz.

no futuro, espera juntar ao espaço do ateliê a sua própria loja, mas o próximo passo é mesmo a mudança para um ateliê maior e criar a sua primeira colecção de vestidos de noiva. peças que apenas serão vendidas no ateliê e que servem, sobretudo, para noivas mais indecisas, que «precisam de ver para comprar».

raquel.carrilho@sol.pt