ficou contente por ter sido chamado para integrar a equipa da nova tvi24?
fiquei, fiquei contente por o zé alberto [carvalho] se ter lembrado de mim para apresentar e coordenar o 25.ª hora.
tem uma boa relação com josé eduardo moniz. esperava este convite por parte de josé alberto carvalho, sendo pública a má relação entre ele e manuela moura guedes?
trabalho é trabalho. e as relações pessoais não têm nada a ver com o meu trabalho.
a sua carreira foi marcada por algum mediatismo, em especial por se ter demitido após o final do jornal nacional de 6.ª, de moura guedes. preferia uma carreira menos atribulada?
todos os episódios pelos quais passei moldaram-me e fizeram de mim o que sou hoje. portanto, não.
no caso do episódio em que teve de suspender o jornal nacional de 6.ª…
…com certeza que foi um dia complicado. foi uma tomada de posição. mas está feito. é passado.
foi um momento marcante para o jornalismo, porque se falava muito da interferência de josé sócrates nos media.
pelo menos, foi um momento marcante para mim e para a redacção.
se tivesse sido hoje, teria mantido o noticiário no ar, ou tomaria a mesma decisão?
teria tomado a mesma decisão.
muitas vozes levantaram-se contra si. a erc até defendeu que não deveria ter acatado a decisão da administração.
no comments.
foi um membro fiel da equipa de josé eduardo moniz. o que aprendeu com ele?
aprendi a fazer televisão. sem dúvida. mas houve mais pessoas que me influenciaram e eu sou o resultado de todas essas influências, como o octávio ribeiro, a manuela moura guedes, o miguel ganhão pereira… [pausa] o josé eduardo apostou em mim, numa altura complicada, foi buscar-me para director de informação e depositou em mim uma determinada confiança.
hesitou antes de aceitar esse convite?
não, não hesitei. achei que era daqueles convites que não se podem recusar.
depois, foi o responsável pelo arranque da tvi24. queria que fosse um canal «mais eficaz, melhor». é desta que isso acontece?
fizemos o nosso caminho, nem sempre com bons momentos. agora, foi dado um impulso novo e as audiências mostram que há algum retorno. se quiser, é uma nova vida para a tvi24.
mas um dos seus objectivos em fevereiro de 2009 era ultrapassar a sic notícias…
há ‘n’ factores que condicionaram o crescimento da tvi24. mas agora o que interessa é o presente. temos de dar o nosso melhor e estarmos confiantes.
a audiência média foi de 16 mil espectadores, na primeira semana da nova tvi24. este é o campeonato da segunda liga televisiva?
de maneira nenhuma. se quiser, é a primeira liga do jornalismo, porque é a que está 24 sobre 24 horas a actualizar a informação e a dá-la em contínuo. mas não acho que seja uma questão de ligas; o cabo tem produtos específicos e a tvi24 é um produto específico da tvi para informar. não pode haver comparação entre os dois.
ao fim de semanas de trabalho nocturno, já se habituou a deitar e a acordar tarde?
já tinha uns horários um bocado malucos. e durmo pouco. mas é sempre estranho andar ao contrário de toda a gente. neste caso, estranho e gratificante, pois é um horário fundamental para o cabo.
já sabe quem são os seus espectadores?
acho que o meu pai me vê às vezes [gargalhadas]. mas não faço ideia… sei que uns dias fazemos melhor do que outros, mas não sei qual é o retrato típico. também não me preocupo com isso, porque a minha função é informar e comunicar. é ser o rosto do 25.ª hora e, também, ajudar a formatar um jornal um bocadinho diferente daquilo que existe naquele horário no resto do cabo.
esta nova experiência como pivô causou-lhe algum nervosismo?
claro. estive nove anos sem apresentar um jornal e, de repente, tive de me habituar, ou reabituar, a estar num estúdio, a estar com câmaras à frente, a comunicar de outra forma, porque até aí tinha estado a fazer reportagem, ou era director de informação. quando voltei à função de pivô estava com os meus níveis de ansiedade lá muito em cima.
o que se pensa naqueles momentos?
a minha preocupação não é a preocupação típica de quem aparece na tv, ou seja, se estou bem ou não, se estou gordo, se estou magro. a minha preocupação é saber se a mensagem chega e se as pessoas gostam de apreender essa mensagem através de mim.
acha que é fácil criar empatia consigo?
terá de perguntar aos espectadores. mas espero que sim. espero que o espectador crie essa empatia. e não tem de ser uma empatia muito forte, tem de ser uma posição de emissor/receptor – gostar de ouvir a informação através desta voz, desta imagem, neste jornal. espero que o espectador goste do embalo das notícias dadas por nós e não tenha necessidade de mudar de canal.
foi repórter no conflito do líbano. um cenário de guerra faz a diferença no currículo de um jornalista?
um bom jornalista não precisa de passar por um cenário de guerra. acho que um cenário de guerra muitas vezes – dependendo da guerra e dependendo do cenário – pode pôr o jornalista perante determinadas situações a que não está habituado e pode influenciá-lo, pode mexer com ele.
mexeu consigo?
mexeu, não só pela guerra, pelos ataques, os bombardeamentos e tudo a que não estamos habituados, felizmente, mas pelo que somos obrigados a ver, a retratar e a comunicar. como as crianças que morrem, chamados danos colaterais, que não são danos – são baixas de uma guerra, de uma explosão, de um ataque suicida. são produtos do mal, que temos de mostrar, com alguma sensibilidade. das poucas vezes que me fui mais abaixo numa reportagem foi no líbano, quando um prédio foi atacado e os corpos saíam lá de dentro. foi das vezes em que me senti mais impotente, em que me debati seriamente…
se era ético ou não transmiti-lo?
se era ético e se era essencial à mensagem. mas aquilo chocou-me tanto, que era preciso mostrar uma criança morta, deformada, para as pessoas perceberem a dimensão da guerra. tal como foram importantíssimas as imagens da fome na etiópia, nos anos 80. fizeram-me impressão, fizeram impressão a qualquer pessoa com um bocadinho de coração. as pessoas precisam de um alarme que as faça perceber o que se passa no mundo.
nasceu na azambuja. é homem de estar ao fim-de-semana rodeado de cavalos, no ribatejo?
sou um homem de estar ao fim-de-semana no ribatejo, mas com os cavalos não, porque não os tenho. mas, se os tivesse, estaria.
sei que gosta de corridas de touros. o que pensa sobre a polémica em torno do tema?
a questão das touradas é um assunto indiscutível: é uma questão cultural e uma questão física, genética e orgânica do próprio animal. e eu gosto desta tradição.
francisca.seabra@sol.pt