Grécia: a pressão europeia e o protesto do povo

Cerca de 20 mil pessoas encheram hoje o centro de Atenas, capital grega, em protesto contra o novo pacote de austeridade que está a ser discutido pelo governo do país. Um executivo que está apertado entre duas paredes: uma, empurrada pela Europa, que exige um maior aperto de austeridade para libertar mais 130 mil milhões…

«queremos a grécia no euro». a frase foi proferida hoje por durão barroso, presidente da comissão europeia que voltou a reforçar a vontade dos líderes europeus em evitar que a grécia entre em insolvência. à sua voz juntaram-se angela merkel e nicolas sarkozy, a dupla franco-germânica que mais tem pressionado o governo helénico de lucas papademos a aceitar um acordo que permita o envio do segundo pacote de ajuda externa ao país.

o presidente gaulês frisou à cnn que «os líderes gregos fizeram compromissos e agora têm que respeitá-los escrupulosamente», acrescentando que «não têm escolha» senão aceitar o acordo que tem adiado a conclusão das negociações entre o governo de coligação grego e os três principais partidos do país que o apoiam. em causa estão as principais medidas que propõe: corte em 20% no salário mínimo nacional, de 751 para cerca de 525, redução dos salários no sector privado e um corte da despesa pública em 1,5%.

uma decisão foi adiada, consecutivamente, no domingo e segunda-feira, devido ao descontentamento popular que o acordo já está a despertar no país.

hoje, terça-feira, dois dos principais sindicatos gregos convocaram uma greve que parou os transportes públicos e os portos do país, ao mesmo tempo que conseguiu juntar cerca de 20 mil pessoas no centro de atenas, perto da praça syntagma, já berço habitual dos protestos e manifestações contra a austeridade.

ao mesmo tempo que lida com as discussões internas para aprovar um acordo exigido pela troika – ue, fmi e bce -, o executivo grego tem igualmente negociado com os seus credores privados, com vista a conseguir um perdão de 100 mil milhões da sua dívida privada que, no total, ascenderá já aos 330 mil milhões de euros, segundo a associated press.

este ‘perdão’ da dívida é um de dois objectivos fulcrais para evitar a insolvência e bancarrota da grécia, que tem até março para pagar 14,5 mil milhões de euros em títulos de dívida. o segundo prende-se com o segundo pacote de resgate, avaliada em 130 mil milhões de euros, que a troika apenas libertará quando for aceite o acordo para reforçar a austeridade no país.

os líderes europeus querem manter a grécia no euro, com medo que uma eventual insolvência do país contagie outras economias enfraquecidas pela crise, como portugal ou irlanda. mas o povo grego não quer um reforço da austeridade do país, e tem, para já, atrasado uma decisão do governo de um país que, como lembrou a bbc, vai já no quinto ano consecutivo de recessão e cuja economia ‘encolheu’ 12% desde 2008.

os líderes europeus querem a grécia no euro, o povo helénico não quer mais austeridade, é neste conflito que balança a decisão do governo de papademos, que ditará o futuro de um país cada vez mais à beira do abismo que o lançará para a bancarrota.

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