no seu livro história económica de portugal, diz que para acabar de construir o euro é preciso perceber que o problema é geral. paris e berlim sabem isso?
eles sabem que é geral, não conseguem é passar essa mensagem aos eleitores e traduzir isso em votos. os políticos são pagos para ganhar eleições e as mudanças de opinião só acontecem quando sabem que é o caminho para a vitória. em frança, por exemplo, nicolas sarkozy está virar à esquerda e anunciou a taxa tobin, uma ideia que há dez anos só os marxistas defendiam. ninguém sabe se os modelos que podemos pensar para solucionar a crise vão funcionar. se a alemanha decidir despejar dinheiro pela periferia, a crise na zona euro resolve-se? ninguém sabe. as sociedades não podem ser governadas por modelos ou ideologias, mas sim por tentativas. os governos europeus têm de falar entre eles e o governo português tem de falar mais com a europa
passos e gaspar deviam estar mais em bruxelas?
claro. pedro passos coelho devia ir regularmente a bruxelas fazer pressão e colocar lá o ministro das finanças o tempo todo. o governo está a mudar leis, não a governar.
desde o início do euro, em 1992, que a economia, a produtividade e o emprego em portugal estão a cair fortemente. a entrada no euro foi uma má ideia?
o euro foi um mau negócio para portugal, mas não sabemos se não foi o melhor negócio que podíamos ter tido. a economia portuguesa foi gerida desde 1986 como uma economia que se iria integrar na europa. era assim permitido fazer sucessivos endividamentos que resultariam num crescimento acima da média europeia e que pagariam esse endividamento inicial. agora a economia já não pode ser gerida dessa forma. é por isso que o equilíbrio através da austeridade é fundamental, mas não o empobrecimento nem esta situação exagerada a que se chegou em portugal.
após quase dez anos a divergir da zona euro, e com o programa da troika a aprofundar esse processo até 2013, pode dizer-se que, economicamente, portugal está a sair do euro?
portugal não está, mas a economia está a sair do euro. politicamente, há condições para nos mantermos no euro mas, se nada for feito, essa divergência económica vai tornar essa manutenção mais difícil.
isso pode acontecer quando a vontade política da união europeia (ue) acabar?
a questão actual é se portugal se deve manter no euro e que metas temos de falhar para que o país comece a pensar seriamente em sair da moeda única. se a divergência económica se mantiver mais um ano ou dois com o nível actual, acho que estamos muito próximos de sair do euro. se a europa crescer a 0% e portugal contrair a 3% durante dois anos.
como é que esta crise vai ser recordada?
a crise actual vai ser uma das três principais do século: a crise do subprime, da dívida soberana e agora do euro. se esta última não for resolvida, teremos uma quarta, a crise da integração europeia. em relação em portugal, esta é mais uma crise da abertura ao exterior. mas, como todos os historiadores económicos sabem, todas as crises têm soluções.
