na verdade, a polémica que alimentou noticiários e jornais – entre o habitual tom de quem vive insultado de louçã e a desconhecida veia camoniana de zorrinho, com variações pelo meio –, está ao nível da que surgiu a propósito do ‘apelo’ à emigração. e, agora como então, quem critica não apresenta soluções, limitando-se a ‘navegar’ no que se tornou um soundbyte, alegadamente infeliz, de passos coelho.
é estranha – ainda que, infelizmente, já não espante – a forma como se reagiu ao apelo. quem critica passos, acusando-o de ser pouco menos do que um sádico que se apraz com o sofrimento dos portugueses, roça o patético. esperavam o quê? que o primeiro-ministro tivesse dito aos professores sem trabalho (no ‘caso’ da emigração) para baixarem os braços, atolando-se em anti-depressivos à porta dos centros de emprego? e agora? esperavam que passos lamentasse o fim de um feriado ‘virtual’ como o carnaval e não pedisse aos portugueses para exigirem mais de si mesmos, das empresas onde trabalham e das escolas onde aprendem? o primeiro-ministro não é perfeito, nem tem de ser. felizmente, tem defeitos, como todos nós, sendo que um deles é, eventualmente, o excesso de aspereza no discurso. mas uma coisa é certa: está mesmo na hora do fim da lamúria. e de deitar mãos à obra. não há outra forma de sair do pântano em que nos atolaram. os ‘piegas’ deste pântano não são os portugueses que sofrem. são os políticos (e os gestores) que continuam a querer ganhar votos (e dinheiro) ‘cavalgando’ o sofrimento alheio.
ricardo.d.lopes@sol.pt