o ideal seria o seu chefe ler este género de crónicas. mas vou sugerir-lhe outros truques para superar esse autêntico drama profissional.
haveria sempre a solução de adverti-lo para não cuspir ou não perdigotar. suponho que não vai resultar, por duas razões: primeiro, pelo que percebo, a leitora não tem ‘lata’ para o advertir; depois, porque, tratando-se de um tique enraizado, não passa assim às boas.
a si, leitora, só me resta aconselhar a desviar-se da proximidade do chefe – apesar de saber, por casos semelhantes, que quanto mais nos afastamos de um perdigoteiro, mais ele se aproxima, chegando ao ponto de nos agarrar! mas marque quanto possível o seu terreno. pode usar algum jogo de ombros, ou a defesa da cara por detrás do braço em cotovelo – o que, feito de forma enfática, sensibilizá-lo-á para a inconveniência.
outra hipótese – mais ou menos amável, mais ou menos crítica – seria a leitora dar de presente ao seu chefe o dicionário de bons costumes das princesas alessandra borghese e gloria von thurn und taxis (ed. estampa), marcado na pág. 93, na letra f (de ‘falar’), onde se especifica que as pessoas não devem falar com os outros «muito próximo, ou respirar-lhes em cima da cara». a elegância mínima, a falar, exige que não se atirem perdigotos para cima do interlocutor, nem se cuspa no chão. claro que o que apetecia mesmo era devolver os ditos perdigotos. mas seria deselegante e geraria um caos no trato.
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