fale-nos um pouco sobre alma.
é como se fosse um irmão mais velho do primeiro disco. todos crescemos, então o resultado é sempre melhor. ou, pelo menos, pretendemos que seja sempre mais aperfeiçoado. o nome do disco não remete para a minha alma mas sim para uma música que fala de alma para alma, como o fado.
o que difere de alma para fado?
reconheço algumas diferenças no meu próprio canto. há uma evolução e maturidade ao nível da interpretação. também cresci e pude aprender muito durante estes três anos que passaram. sinto que ainda estou muito atrás do meio caminho. em termos de sonoridade e arranjos é diferente porque o diogo clemente também está a viver esse processo de crescimento e sente-se a evolução na produção e um arriscar em alguns temas, com arranjos mais atrevidos.
foi a carminho que fez a selecção dos temas?
sim, com o diogo clemente. fizemos a recolha do repertório de uma maneira muito natural porque alguns desses fados já os cantava e outros queria muito cantá-los. depois os inéditos, que me são muito queridos, foram pedidos que fiz e que foram logo correspondidos pelo vitorino, o vasco graça moura, o mário pacheco e o diogo clemente.
num dos temas, ‘talvez’, canta: «não sei talvez quem és, mas sei quem sou». este segundo álbum é a sua afirmação?
houve um amadurecimento mas ambos são uma afirmação daquilo que sou, sendo que já não sou aquilo que era no primeiro álbum. gosto muito do álbum e se não representasse a minha pessoa ia ser mais difícil defendê-lo.
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sente uma responsabilidade acrescida depois do primeiro álbum ser nomeado como um dos dez melhores do mundo?
sinto. é sempre uma nomeação muito honrosa. mas mesmo que a nomeação não tivesse existido a responsabilidade estaria lá porque já existem pessoas à espera de perceber qual é o caminho que vamos trilhando.
acha que foi criada uma grande expectativa à sua volta?
não sei. existem sempre expectativas no mundo do fado porque todos se conhecem uns aos outros. existem sempre novas vozes e expectativas à volta dessas pessoas. tem a ver com uma cultura familiar, de tradição e de passagem de testemunho.
a sua colaboração em ‘perdóname’ tem sido um êxito. como surgiu a ideia de trabalhar com o pablo alborán?
ele ouviu o meu disco e convidou-me para interpretar um dos temas dele ao vivo em espanha. correu muito bem, houve uma empatia artística. depois o tema tornou-se um single e vieram gravar o videoclip em lisboa, o que me deixou ainda mais feliz.
como se sente ao ser a primeira artista portuguesa a chegar a n.º 1 do top espanhol?
primeiro que tudo a música é do pablo, e ele sim está a ter uma enorme repercussão do que é o seu trabalho e o seu talento. fico muito orgulhosa de estar ao lado dele nesse dueto.
faz parte de uma nova geração de fadistas. acha que pode haver um elo entre a modernidade e a tradição?
na minha perspectiva cada fadista dá um pouco de si ao fado. depois o tempo e as pessoas que ouvem é que acabam por definir o que fica e o que efectivamente foi a continuidade desses passos. e o que é inovador? são linhas muito ténues quando se trata de uma música de raiz.
como foi o dueto com os moonspell?
esse foi completamente improvável [risos]. foi uma surpresa enorme. o mundo do metal é desconhecido para a maioria das pessoas. é normal que se crie um mistério à volta deles. são excelentes músicos.
com quem gostaria de vir a colaborar?
na música não existem limites e, de facto, o dueto com os moonspell veio provar isso. gostava de fazer um dueto com o frank sinatra e com o freddie mercury, mas já não é possível. com o chico buarque seria um bom dueto.
ouve outro tipo de música?
sim, não oiço só fado. gosto muito de música clássica e de música popular brasileira. claro que a música americana é incontornável, toda aquela massa do jazz. mas a minha banda favorita são os queen, porque realmente continuam actuais. são muitas as referências porque a música não tem necessariamente a ver com o estilo mas com a qualidade e com a capacidade de nos fazer sentir coisas.