«portugal está muito melhor do que a grécia». a frase pertence a paul krugman, nobel da economia em 2008, que na semana passada esteve em portugal e voltou a frisar uma visão que tanto o primeiro-ministro como vários outros membros do seu executivo têm vindo a sublinhar nos últimos meses. o próprio evangelos venizelos, ministro das finanças grego, defendeu já essa posição.
mas no dia-a-dia de ambos os países reinam as mesmas palavras: austeridade, troika, crise, sacrifícios e défice. o mais comum cidadão grego ou português não consegue fugir de termos como estes, ao abrir um qualquer jornal do seu país. no caso helénico, basta mesmo passear pelas ruas da sua capital, atenas, para ouvir as mesmas palavras a serem entoadas, em uníssono, por milhares de indignados em protesto contra a situação em que o país está mergulhado.
aqui, em larga medida, portugal é diferente da grécia. os brandos costumes que a tradição impõe ao país não atiraram, para já, uma multidão de pessoas para as ruas na mesma escala que se tem visto na grécia, ainda para mais quando se tratam de dois países com número semelhante de habitantes – ambos entre os 10 e os 11 milhões de pessoas.
chegamos aos números. é aqui que encontramos mais semelhanças, ou melhor, menos diferenças entre portugueses e gregos. alguns casos mostram mesmo que os helénicos se saem melhor do que os habitantes deste nosso «jardim da europa à beira mar plantado», a expressão que o poeta tomás ribeiro usou para descrever o nosso país, uma frase que também se poderia aplicar na nação plantada à beira do mediterrâneo.
os números que separam, e unem
a semana passada ficou conhecida a mais recente actualização da taxa de desemprego em portugal: 14,8%, era a percentagem, em janeiro, das pessoas sem emprego, segundo os dados recolhidos pelo eurostat. no total, segundo o ine – instituto nacional de estatística -, haverá mais de 770 mil desempregados em portugal.
a alarmante taxa que a crise tem vindo a aumentar fez com que portugal ultrapassasse a irlanda, outra nação que também já caiu no abismo da crise, como o terceiro país com maior taxa de desempregados na europa. à sua frente só a espanha, com 23,3%, e a grécia, com 19,9%, um valor que remonta a novembro de 2011, mas que o elstat (instituto de estatística grego), coloca ‘apenas’ nos 17,7%.
mas a taxa de desemprego grega, a par do total que o país acumulou em dívida externa – a rondar os 350 mil milhões de euros -, são os dois números em que a grécia ultrapassa largamente portugal e que atiraram o país para o centro das atenções da crise financeira europeia. por outro lado, se atentarmos a outros dados das economias de ambos os países, nós, portugueses, poderemos afinal não ser assim tão diferentes dos nossos congéneres gregos.
na taxa de desemprego, a percentagem helénica bate em vários pontos a portuguesa. porém, a organização europeia para a cooperação e desenvolvimento (ocde), mostra que há tantos gregos com emprego remunerado como portugueses: 4,194,4 contra 4,280,6, segundo dados relativos no primeiro trimestre de 2011.
há tantos gregos a trabalhar como portugueses, e os níveis de desemprego poderiam então justificar-se com as diferenças em termos de população activas. mas, olhando para os números, as diferenças são, de novo, poucas: em 2001 havia 5,580,7 pessoas aptas para trabalhar em portugal, e na grécia o número descia um pouco, para 5,021,1, em 1998.
merecem os gregos uma imagem de preguiça?
os dados entre portugal e grécia começam a divergir quando falamos na média de horas que cada pessoa activa trabalha por ano. e aqui, os helénicos levam larga vantagem.
a ocde mostra que, dos 35 países que integram a organização, a grécia é a nação europeia cujos trabalhadores mais horas trabalham, em média, durante um ano. os últimos dados remontam a 2010, e mostram que cada grego trabalhava em média 2,017 horas por ano. apenas encontramos portugal entalado no meio da lista, com as 1,714 horas que, em média, cada português trabalha num ano.
os números, por si só, nada explicam do clima de crise que ambos os países vivem. recorde-se que, no seu caso, a grécia foi alargando a sua dívida ao longo dos anos muito por culpa da sua insistência em gastar dinheiro que não tinha, algo que se agravou (e foi facilitado) quando aderiu à ue em 1981. os fundos europeus e a facilidade de aceder ao crédito permitiram aos sucessivos governos helénicos continuar a construir um modelo de estado social que nunca puderam sustentar.
porém, ao consultarmos os dados da ocde que mostram as despesas sociais de cada estado, em percentagem do seu pib, portugal surgia em 2007 com uma percentagem de 22,5%, contra os 21,3% da grécia. nestas contas entram valores de despesa do estado como as pensões de reforma, gastos de segurança social ou subsídios de desemprego, por exemplo.
é preciso recuar até 2000 para encontrar um ano em que as despesas sócias do executivo grego tenham superado as despesas do estado português. tudo num país que, até à chegada da austeridade, a idade de reforma rondava os 53 anos de idade e o salário mínimo se situava nos 751 euros.
gregos à frente no desenvolvimento humano
ao nível do desenvolvimento humano, a lista do indicador de desenvolvimento humano (idh) das nações unidas (onu), mostra que, mesmo com ambos os países longe do topo da lista a nível mundial, a grécia consegue fazer melhor e encontra-se 12 lugares à frente de portugal.
porém, e apesar da ligeira vantagem grega, os números são muito similares em valores como a esperança média de vida, (79,9 para os gregos e 79,5 para os portugueses), embora na cãoição do pib per capita – por cada habitante do país -, a grécia alargue a sua vantagem: 23,747 contra 20,573.
os números valem o que valem, e serem de comparação entre os dois países que têm sido encaradas como os alvos mais afectados pela crise financeira. a grécia prossegue sendo o caso mais grave, face aos elevados juros dos empréstimos que contraiu e o valor total da sua dívida que obrigou a um segundo resgate financeiro.
mas, como alguns dados e números mostraram, gregos e portugueses não diferem assim tanto.