para esta imagem contribuíram vidas de violência passadas, ilustradas pelas mortes de ansumane mané e dos chefes do estado-maior veríssimo seabra e tagme nawaié, de vários políticos importantes e do próprio presidente nino vieira. e também, claro, o envolvimento dos responsáveis políticos e militares no crime organizado, no tráfico de droga vinda das américas e encaminhada para a europa. já pelo menos em dois thrillers, um de frederick forsyth (cobra) e outro de gérard villiers (féroce guinée) esta imagem é glosada ficcionalmente.
tudo isto aconteceu. mas a verdade é que – isto já não é dito – que nos últimos anos, graças ao governo de carlos gomes jr., as coisas começaram a mudar. apesar dos riscos, das ameaças e dos golpes – o primeiro-ministro já enfrentou vários –, o governo de bissau alterou, profundamente, a situação do país. e para melhor.
primeiro foi o saneamento económico e financeiro. sendo um dos principais empresários guineenses, o primeiro-ministro trouxe para a governação uma preocupação de boas contas e de responsabilidade do estado como pessoa de bem: os salários dos funcionários públicos passaram a ser pagos a tempo e horas, os fornecedores também e as organizações internacionais encontraram interlocutores responsáveis.
depois, carlos gosmes jr. enfrentou o grave problema da reforma das forças armadas. no fundo, trata-se de garantir uma saída decente e uma vida possível para o pessoal militar, do qual 75% tem hoje mais de 50 anos. para resolver este difícil problema, a guiné encontrou o apoio de angola – que, quer financeiramente, quer com a assistência da missão militar propriamente dita, tem contribuído decisivamente para manter a estabilidade do país.
nas últimas intentonas – a de 1 de abril de 2010 e a de 26 de dezembro de 2011 – foi decisivo o sangue frio e a coragem do primeiro-ministro. que da primeira vez teve o povo na rua a defendê-lo contra os golpistas. na segunda, teve o apoio do exército contra os sublevados.
com a morte do presidente malam bacai sanhá, abriu-se um novo ciclo: na necessidade de eleger rapidamente um presidente, evitando um período longo de vacatura, carlos gomes jr. foi designado pelo paigc, o partido maioritário, para candidato às eleições de 18 de março. com esta candidatura pretende garantir na chefia do estado o plano de reforma política, económica e militar que tem vindo a realizar. isso será tanto mais exequível se o paigc vencer, depois, as legislativas e encontrar um primeiro-ministro à altura.
neste momento, além de carlos gomes jr., há mais catorze candidatos. entre os conhecidos figuram o ex-presidente interino henrique rosa, personalidade a todos os títulos respeitável e respeitada, e o retórico populista kumba yalá, que já foi presidente e que procurará outra vez jogar no descontentamento dos balantas.
mas espera-se que carlos gomes venha a ganhar, e logo à primeira volta. a cplp (que ainda recentemente na união africana, em adis-abeba, foi decisiva com os seus votos na eleição do secretário-geral da organização, para suspender a reeleição de jean ping face à sul-africana zuma) não pode permitir-se ter entre os seus membros um estado-falhado. que foi o que a guiné-bissau correu o risco de ser.