o sentimento junto dos credores externos é que o programa português está a correr dentro do previsto, embora nada esteja assegurado acerca do seu sucesso, apurou o sol, junto de fontes próximas da comissão europeia, fundo monetário internacional (fmi) e banco central europeu (bce).
um dos maiores riscos para esse sucesso é não haver, até agora, qualquer sinal credível e sustentável de que a economia vá crescer no médio prazo, adiantou fonte comunitária.
o ministro das finanças anunciou esta semana uma recessão mais profunda em 2012 (queda do pib de 3,3% face a 2,8% do oe) acompanhada por uma taxa de desemprego de 14,5% (acima dos 13,7% projectados). ontem, o eurostat revelou que, só em janeiro, a taxa de desemprego já atingia 14,8%, igual à verificada na irlanda e a terceira mais alta da zona euro. a troika assumiu ainda esta semana que o pico da dívida pública portuguesa, afinal, não será em 2013, mas talvez em 2014.
o enfraquecimento dos indicadores económicos está a preocupar os responsáveis externos. além da recessão, desemprego e derrapagens fiscais, o eurostat informou que o nível de confiança agregado de empresas e famílias em portugal (um indicador da evolução da economia nos próximos meses) atingiu em fevereiro um mínimo histórico e já está ao nível do da grécia.
governo e troika reafirmaram, após a terceira revisão, que não haverá, para já, qualquer flexibilização de metas, prazos e verbas do pacote de assistência financeira. porém, os credores externos asseguraram em lisboa que vão apoiar portugal até ao seu regresso aos mercados. um regresso previsto para setembro de 2013, que o primeiro-ministro, pedro passos coelho reiterou esta semana, mas que abebe selassie, o novo chefe de missão do fmi em portugal, em entrevista ao jornal de negócios, disse ser «difícil».
não foi por acaso que a mais recente visita da troika foi direccionada para o financiamento da economia, onde se destacou a autorização de usar a totalidade dos seis mil milhões de euros dos fundo de pensões da banca para pagar dívidas do estado à banca, hospitais e fornecedores. segundo fonte da troika, os credores externos querem que «o estado pague rapidamente as suas dívidas para colocar as empresas a funcionar e evitar que o seu dinheiro não desapareça numa economia onde ninguém paga a ninguém».
espanha ameaça lisboa
mas se existem riscos dentro de portas, outro problema está a criar forte preocupação no fmi e comissão europeia. o problema, desta vez, não é a grécia, mas sim espanha, país que, supostamente, estava a conseguir proteger-se da crise. em bruxelas, a preocupação com madrid passou a ser prioritária logo a seguir a atenas. espanha vai estar em recessão este ano (queda de 1% do pib em 2012), as recentes reformas laborais criaram fortes manifestações em várias cidades em estilo de uma ‘mini-grécia’. a transparência dos números das contas públicas não está assegurada e madrid já pediu a bruxelas a flexibilização do défice exigido este ano (4%) para evitar um pacote de austeridade avaliado em 44 mil milhões de euros que poderia não só alarmar os mercados como reactivar a crise do euro.
madrid pode ser uma ‘bomba-relógio’ graças ao forte endividamento das regiões, vistas pela troika como «mini-madeiras». para portugal, o risco de uma crise em espanha é elevado, dada a forte exposição da banca nacional e da economia. para o país vizinho vão mais de 25% das exportações e a exposição financeira é superior a 20 mil milhões de euros.