ModaLisboa: Deixar o coração na passerelle

No último dia da ModaLisboa, quando já tudo fazia prever que esta seria uma edição marcada por uma certa mediania criativa, Ricardo Dourado, Pedro Pedro, Alexandra Moura e Filipe Faísca, contrariaram essas expectativas. Cumprindo o ditado de que o melhor fica para último, estas quatro colecções destacaram-se como as melhores de toda esta edição da…

depois dos desfiles de ricardo andrez e marques’almeida terem marcado o começou do dia, ricardo dourado mostrou as suas propostas inspiradas nos rioters. o designer criou uma colecção com um forte espírito de rua, agressiva e até violenta, com pontos de contacto com a colecção anterior, mas indo ainda mais longe no exercício dos volumes e cortes. foi também a estreia de ricardo dourado na criação de roupa para homem, o que veio fortalecer, ainda mais, o seu universo criativo.

de seguida, as expectativas estavam altas para o desfile de pedro pedro, que, nas últimas edições, conseguiu apresentar sempre um trabalho consistente e surpreendente. o designer não desiludiu ninguém. pelo contrário. mantendo a sua busca incessante por um equilíbrio entre o workwear e o couture, pedro mostrou uma colecção urbana, com tecidos luxuosos, que contrariam o espírito deprimido trazido pela crise. foi uma colecção feminina, com uma definição de elegância moderna que voltou a confirmar o talento de pedro pedro.

alexandra moura foi outra das grandes surpresas do quarto e último dia da modalisboa. com o tema ‘agri…doce’, a colecção não teve nada de agridoce. com o objectivo de trabalhar o confronto entre estrutura e romantismo, urbano e rural, a criadora conseguiu atingir um equilíbrio perfeito nestas dualidades. a colecção mostrou propostas com a assinatura alexandra moura e outras, em que explorou novas silhuetas e tecidos pouco usuais no seu trabalho. sempre com o saber que caracteriza o seu trabalho e com uma vitalidade sedutora.

a fechar o dia e esta edição da modalisboa, filipe faísca transformou a dor em fonte de inspiração para uma colecção cujo ponto de partida foi o luto. as dores de amor, da morte, da perda em geral, ganharam forma na passerelle e transportaram a plateia para uma viagem pessoal, ao universo do designer, mas também ao seu próprio íntimo. sempre com a elegância que caracteriza o seu trabalho, filipe faísca apresentou uma colecção estruturada, com muito trabalho de modelagem e cortes em viés, que resultou sempre em peças fortes, sem serem, no entanto, agressivas. as peças com uma espécie de ‘trança’ no próprio tecido – feitas com pontos dados à mão através de uma rigorosa técnica de esquadria –, bem como os plissados, foram momentos altos no desfile. foi um desfile de encerramento cheio de emoções, que provou que a criação é também um acto de coração.

raquel.carrilho@sol.pt