O cinto que a Espanha vai ter que apertar

No dicionário, austeridade refere-se à qualidade do que é austero, logo, a algo severo, rigoroso e que «não se deixa dominar pelo que agrada aos sentidos». A curiosa descrição não traz consigo a natureza económica com que a palavras tem sido acompanhada cada vez que é pronunciada. Hoje, e principalmente para gregos, irlandeses e nós,…

esta introdução ao texto justifica-se com os desenvolvimentos, nos últimos dias, nas negociações entre o governo de mariano rajoy, primeiro-ministro espanhol, e os responsáveis europeus, leia-se, o eurogrupo  – os 17 países que integram a zona euro -, e a ue.

apesar de não se encontrar submergida em índices económicos tão graves como os que estão a afectar a grécia ou portugal, os nosso vizinhos espanhóis terão que apertar o seu cinto de austeridade até pelo menos 2013.

o ano marca o prazo em que, à semelhança dos seus parceiros europeus, a espanha terá que apresentar um défice do pib (produto interno bruto) nunca superior a 3%, para não violar os limites impostos pelo pacto de disciplina orçamental que foi acordado pelos líderes da ue. o executivo espanhol tem reafirmado a sua vontade e comprometimento com o objectivo imposto para 2013, mas é em 2012 que surgiram as divergências com os responsáveis europeus.

eleito para o cargo de primeiro-ministro em novembro, mariano rajoy chegou ao executivo e herdou as fragilidades que o anterior governo socialista acumulara: em 2011, a economia espanhola registou um défice de 8,5%, superior aos 6% originalmente previstos. mais grave ainda foi objectivo com que josé luís zapatero se comprometera junto da comissão europeia, quando apontou que em 2012 conseguiria reduzir o défice para os 4,4% do pib.

logo aí o povo espanhol começou a conviver com a austeridade. as várias medidas que chegaram a ser anunciadas pelo executivo de zapatero motivaram logo o descontentamento nas ruas, mas agora o cerco da austeridade poderá ficar ainda mais apertado.

tudo porque, para este ano, e além de não conseguir reduzir o défice para os 4,4% que o anterior governo prometera, rajoy revelou em cimeira da ue que o novo objectivo seria encolher o défice para os 5,8%, um número que surpreendeu os responsáveis europeus e que fez subir os alertas para o caso espanhol. porém, e empurrado pela pressão de fazer boa figura e reforçar a credibilidade aos olhos dos mercados, como explicou o el mundo, a ue exigiu esta semana que a meta do défice espanhol para este ano se situasse antes nos 5,3%.

o el país explicou que esta diferença de cinco décimas – entre o proposto pela governo e o exigido pela ue -, vai obrigar a espanha a cortar mais 5 mil milhões de euros, uma verba que vários ministros do executivo já se comprometeram a cumprir, embora sem especificar onde serão aplicados os cortes.

a exigência que trará dificuldades

luis de guidos, ministro da economia espanhol, garantiu que o país «está absolutamente comprometido com o ajuste [e] com as reformas estruturais», e chegou a assegurar que o governo «não prevê» subir a taxa de iva este ano – actualmente situada nos 18%.

mas o ministro espanhol não avançou como serão pautados os cortes que obrigatoriamente terão de ser aplicados.

certo é que, em dois anos, a exigência europeia vai obrigar o país a realizar cortes na ordem dos 55 mil milhões de euros, além dos 15 mil milhões em medidas de austeridades que já foram implementados. em 2012, o governo terá que ‘poupar’ 35 mil milhões e, caso consiga cumprir o objectivo para este ano, em 2013 virão ainda mais outros 25 mil milhões de euros de cortes que, de alguma maneira, o governo de rajoy terá que poupar.

e essa maneira passará sempre pelas medidas de austeridade. em dois anos, a espanha terá que implementar medidas que reduzam as despesas estatais e que aumentem as suas receitas, num contexto que pouco deverá ajudar: prevê-se que o pib encolha 1% este ano, o que contribuirá, em parte, para uma contracção económica a rondar os 1,7%, como estimou a bloomberg, a par de uma taxa de desemprego que já ultrapassou os 24%.

mesmo sem ter avançado, para já, qual será o caminho a tomar, é certo que a austeridade será sempre uma das portas que o governo de mariano rajoy terá que (mais uma vez) abrir para respeitar as metas às quais aponta.

(artigo actualizado às 20h23.)

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