não se pôs atrás das câmaras mais cedo porque «ainda não conseguia imaginar as histórias aos quadradinhos». essa questão foi ultrapassada quando adriano sonhou com elas. «só posso fazer projectos com os quais sonho de noite. esta vontade de realizar nasce da mesma maneira que fui encenar. foi um impulso. e queria que o meu primeiro filme fosse com a minha mulher [carla de sá]», conta ao sol.
ao contrário do que o título sugere, a curta – filmada na mesma casa dos mistérios de lisboa – não retrata a felicidade, mas foi inspirado num livro de auto-ajuda. «achámos graça que o título do filme fosse o do livro e que o do livro fosse uma antítese do que estamos a ver», explica.
o actor, que foi premiado pela sua interpretação em mistérios de lisboa – que já tinha encenado em 1995 no monumental –, acaba de rodar as linhas de torres, projecto de raul ruiz, realizado por valeria sarmiento, viúva do realizador chileno. «o raul gostou imenso de nós e criou-se um encantamento por ele. no fundo, ele quis encaixar o elenco dos mistérios neste filme. ele era muito afectivo».
os projectos não ficam por aqui. em abril começa a rodar night train to lisbon, de bille august, e ainda este ano estreia uma peça no teatro nacional d. maria ii. «de uma maneira geral, o teatro é o grande ginásio onde os actores se fazem e onde, de vez em quando, deviam regressar. no meu caso, tenho de regressar ao teatro».
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homem dos sete ofícios
na adolescência aventurou-se numa viagem de carrinha pela europa, onde trabalhou na apanha de maçãs e rabanetes, e tocou nas ruas. «ainda tenho umas fotos na apanha onde estou com aquelas túnicas meio freaks». à chegada a portugal teve uma surpresa. «duas horas depois de ter chegado, o joão mota [que encenou o primeiro espectáculo do actor] telefona-me a convidar para ir para lisboa». foi então que, aos 19 anos, saiu do porto e foi para o teatro da comuna. posteriormente, viria a trabalhar como actor e encenador em vários teatros: aberto, cornucópia, são luiz, villaret, entre outros.
antes disso, fazia parte de um grupo de música, o grupo de acção cultural, com josé mário branco e joão lóio. «era uma espécie de fusão entre a música popular e música de intervenção. era muito miúdo mas lembro-me de ter acompanhado o zeca afonso, o vitorino e o sérgio godinho em alguns concertos».
foi para a música e, mais tarde, para o teatro «não por convicções artísticas», mas por se apaixonar por estas pessoas mais velhas que o fascinavam. «mais tarde, a música serviu-me, quando estava com algumas dificuldades, para tocar em bares. tocava viola e saxofone, mas não muito bem», confessa. para não ir para a tropa e ter adiantamentos inscreveu-se num curso superior. a média não permitiu que entrasse em arquitectura e acabou por escolher engenharia, que frequentou até ao 3.º ano.
em 1985 teve a sua primeira aparição televisiva na série duarte&companhia e, cinco anos mais tarde, estreou-se no grande ecrã com filha da mãe, de joão canijo. joão botelho, tiago guedes, teresa villaverde, margarida gil, joão mário grilo e josé nascimento foram alguns dos realizadores com os quais adriano já trabalhou. «o cinema tem um encanto que, por vezes, a televisão não tem. no cinema, os actores têm tempo e capacidade para se apropriarem do filme. na televisão é mais complicado, principalmente no modelo das novelas», explica. «isto não é ofender quem faz tv, porque também o faço. mas as expectativas são mais baixas. se formos a um restaurante bom e comermos mal ficamos chateados, se formos a um fast-food e também for mau não ficamos tão chateados porque as expectativas são diferentes, e o preço também».
em 1989 deu voz ao sapo cocas, do programa infantil rua sésamo. agora, vinte anos depois, voltou a dar voz para a versão portuguesa dos marretas. «a voz do cocas é complicada porque é no palato e com a idade a voz vai baixando. tinha medo de agora não conseguir reproduzi-la».
foi director artístico da nbp (actual plural), e hoje dirige a casa da criação, que produz as novelas da tvi. «quando estava na nbp, fui a várias escolas de teatro para ir buscar actores formados para os morangos com açúcar, e o que queriam era rapazes de cascais. percebi mal, levei à letra e fui à procura nas escolas. enganei-me, era para ir à praia. não me identifico com esta maneira de ir buscar talentos».
