Grécia: A década perdida

Os credores externos da CE, FMI e BCE aprovaram esta semana um segundo pacote de assistência de 130 mil milhões de euros, válido até 2015. Depois de cinco anos de recessão, dois de resgate e de o país continuar no centro da maior crise da Zona Euro, a Grécia tem, provavelmente, a última oportunidade para…

no novo acordo, a revisão das metas será mensal – ao contrário de portugal, que é trimestral. atenas viu também serem perdoados 106 mil milhões de euros da sua dívida. esta operação obriga a uma nacionalização da banca até setembro, orçada em 40 a 50 mil milhões de euros, e o governo está proibido de nomear gestores. «políticos e bancos é uma mistura explosiva neste país», diz um responsável da troika em atenas a um grupo de jornalistas estrangeiros em que o sol participou.

o apoio externo à grécia já totaliza 350 mil milhões de euros (230 mil milhões dos pacotes financeiros mais 120 mil milhões que o bce emprestou à banca). mas o investimento na grécia é uma aposta de risco. os credores externos estimam que a crise levará, pelo menos, dez anos a resolver e o regresso aos mercados será mais difícil. «voltar aos mercados em 2015 é uma hipótese optimista», diz ghikas hardouvelis, assessor económico do primeiro-ministro interino, lucas papademos.

as futuras eleições, em abril, são o primeiro teste de fogo. «a grécia é uma colecção de interesses instalados e os partidos políticos não se suportam», descreve outro membro da troika em atenas. a garantia de 130 mil milhões a caminho poderá ser uma arma política. «vemos com alguma preocupação as eleições, mas também vontade política para aplicar as novas medidas», salienta horst reichenbach, responsável da task force da comissão europeia, em atenas.

george papandreou, primeiro-ministro durante o primeiro resgate, salienta que é preciso inverter a «psicologia» contra a grécia, seja a ideia de que não há reformas, que o país vai sair do euro ou que ninguém trabalha. «em dois anos, a grécia fez mais reformas que qualquer país da ocde», lembra. antonis samaras, líder do partido nova democracia e provável futuro primeiro-ministro, quer apostar no turismo e indústria naval e privatizar hospitais. «reforma estrutural, fiscal e da economia são os três pilares do nosso projecto», salienta.

a grécia e a troika sabem que o mais difícil será implementar as medidas. o estado grego está cheio de ineficiências, lóbis e a evasão fiscal bate recordes – não há cruzamento de dados e apenas 30% da população paga impostos. os activos do estado são outro exemplo do descalabro. estão registados 300 mil milhões de euros, mas a troika descobriu que avaliação real não passa dos 70 mil milhões, um buraco de 230 mil milhões que daria para saldar quase toda a dívida.

a a ‘receita’ do primeiro pacote de assistência financeira foi demasiado violenta e, para já, o sentimento, em atenas, é de que o país terá de mostrar o que vale até ao final do ano. «é preciso dar uma oportunidade à grécia», lembra dimitris daskalopoulos, presidente da federação de empresas helénicas.

luis.goncalves@sol.pt

em atenas, a convite da ce