não és tu, somos nós
na azáfama de conquistar votos à direita de le pen e parecidos, nicolas sarkozy atacou as actuais leis de imigração, zona schengen incluída. é um bocadinho cansativo ver os imigrantes a ser constantemente utilizados por questões eleitoralistas. cansa também que, independentemente do teor da proposta, sensata ou não, sobre como reagir à imigração ilegal, a reacção se divida nos ‘maus’ à direita e nos ‘bons’ à esquerda. os primeiros querem limitar a imigração. os segundos, às vezes querem, outras não. a questão parece simples. sem pôr em causa o direito de as pessoas escolherem o sítio do mundo onde querem viver, a discussão deve ser se os países de acolhimento podem ou não dar melhores condições ou ao menos cumprir expectativas de uma vida melhor. se podem, não deve haver restrições; se não podem, esses países de acolhimento devem ser desaconselhados como destino laboral. entretanto, por terras lusas, um representante do conselho das comunidades portuguesas definiu como «emigração parva» a que está a ser feita por quem muda de país sem a mínima garantia de ter trabalho à espera. não é por nada, mas cá para mim não devemos ter os únicos emigrantes parvos no mundo.
actualizar as hormonas
um estudo publicado na revista britânica scientific reports afirma que as mulheres que estão na fase final da ovulação são capazes de se aperceber da presença de serpentes antes dos homens ou doutras mulheres que não estejam na mesma fase do ciclo. a explicação está, como é habitual, nas hormonas. a proximidade da fecundação alerta os sentidos para defender a sobrevivência da espécie. o mesmo acontece com as fêmeas de primatas não humanos. trata-se do fear reflex ou mais lusitanamente do ‘reflexo do medo’. o que este estudo peculiar não explica é se o mesmo acontece com outros animais à mesma perigosos ou mais mortíferos. ursos, por exemplo. ou hienas. outra lacuna não menos importante está em saber como é que o tal reflexo funciona nas mulheres que vivem sem o contacto directo com a natureza. como nós, para não ir mais longe. é que isto das serpentes tem graça, mas nas ovulantes citadinas só se forem em sentido figurado. seremos capazes de detectar um condutor embriagado à distância? a sensibilidade hormonal permitir-nos-á perceber que subimos no elevador na companhia de um assassino em série? isto da evolução ainda tem muito que se lhe diga.
as minhas desculpas
há tempos fiz aqui um elogio sentido à série televisiva smash. para exprimir melhor a alegria que senti com a série sobre a produção de um musical sobre marilyn monroe, recorri às memórias de infância e regressei às tardes que passava a assistir a filmes em que as pessoas cantavam e dançavam não sabemos bem porquê. tinha assistido a um episódio de smash, uma produção de steven spielberg, com angelica houston, debra messing e outros, que depois percebi ser o episódio-piloto, bem recebido pelo público. ao quarto episódio apresento as minhas desculpas por ter recomendado uma coisa televisiva a que tiveram a distinta lata de chamar ‘série’. smash vive de um enredo pobrezinho: a rapariga que dorme com o produtor e fica com o papel principal; a outra que não dorme e fica no coro; a guionista que quer adoptar um bebé, mas que não está interessada no marido, etc. os diálogos são também superficiais e não têm humor. smash é uma telenovela enfadonha em que todas as personagens são mulheres. até os homens. alguns números musicais escapam ao tédio generalizado, mas nem todos. só katharine mcphee tem uma bela voz. o interesse desta série fica resumido ao youtube.
perdida
annie lennox, a cantora dos eurythmics, declarou há dias que rihanna faria um favor a inúmeras mulheres no mundo se falasse publicamente sobre como lidou com o seu caso de violência doméstica. compreendia que o fizesse quando se sentisse à vontade e nunca antes, mas insistiu que o seu testemunho seria útil, poderoso e sem precedentes. annie lennox foi sensata no seu pedido, mas é possível que não esteja a par dos últimos acontecimentos do casal. as mais recentes notícias do submundo do mundo cor-de-rosa virtual dão conta de uma reconciliação entre rihanna e o seu agressor, chris brown. parece que ele gosta muito dela e que ela também gosta muito dele. e como gostam muito um do outro, a cantora twittou que lhe perdoava, coitadinho. o caso clássico do homem que espanca a mulher ou a namorada e é perdoado pela mulher ou namorada tem agora a sua versão com celebridades. no twitter, os apoiantes de rihanna exprimem a sua revolta. a cantora blá-blá-blá sobre o perdão e conta que ninguém tem nada com isso. vão ser felizes até ao dia em que ela for de ambulância para o hospital. esperemos que sobreviva e ainda vá a tempo de aceder à sugestão de annie lennox.
guerra às mulheres
estamos a cerca de oito meses das eleições americanas, mas há já tempos que é possível prever que o ano acabará com barack obama na casa branca. o motivo principal da derrota dos republicanos estará relacionado com a campanha vulgar contra as mulheres. mesmo fora do círculo dos democratas do the new york times, a imprensa revela que o voto feminino tendencialmente republicano está a fugir para os lados de obama, porque a discussão se tornou grotesca. a dificuldade está em perceber por que razão os republicanos se concentraram a debater questões como a pílula anticoncepcional e do dia seguinte ou o aborto em caso de violação e esqueceram os temas que interessam a todos e todas: como pagar menos impostos e ganhar dinheiro. até rush limbaugh se sentiu à vontade para chamar «vadia» (uma tradução querida de ‘slut’ ) a uma estudante de direito numa discussão sobre planeamento familiar. pensarão os republicanos que as mulheres não trabalham ou que não pagam impostos? ou que não votam? a apreensão com os costumes e a moral é afinal apenas uma fixação doentia por sexo, como se tem vindo a provar ao longo desta campanha. obama não vai precisar sequer de falar.