Putin e Stolypin

A vitória de Vladimir Putin nas eleições presidenciais russas de 4 de Março não surpreendeu.

as sondagens davam-lhe uma folgada margem sobre os seus opositores, o principal dos quais, o comunista guennadi ziuganov ficou em segundo lugar com 17% dos sufrágios. o terceiro lugar foi mikhail prokhonov, um jovem milionário que teve 8%. putin ganhou com uma margem muito larga – 64%, cerca de 45 milhões de votos populares.

com esta eleição putin concluiu o ciclo do seu regresso à presidência da rússia, depois de a interromper no final de dois mandatos e fazer eleger o seu amigo dmitri medvedev, que o nomeou primeiro-ministro.

em dezembro de 2011, nas legislativas, o partido de putin, rússia unida, perdeu 77 lugares, mas conseguiu a maioria, com 238 dos 450 da duma. o resultado provocou protestos na rua e acusações de fraude nos media internacionais, entre os quais o economist.

não vale a pena aqui a polémica sobre a autenticidade dos resultados eleitorais, uma discussão que, na ausência de fontes próximas e directas, corre o risco de se ficar pelo debate moralizante e democraticamente correcto.

mais interessante é a personalidade do presidente da rússia com a sua meteórica ascensão de antigo quadro dos serviços de inteligência da urss a chefe do serviço de segurança da rússia a partir de 1998, e depois primeiro-ministro.

os fins do ano têm sido particularmente animados em moscovo nos últimos anos: mikhail gorbachov dissolveu a união soviética no dia de natal de 1991. boris ieltsin declarou que abandonava a presidência da rússia em 31 de dezembro de 1999. nesta data, putin ficou presidente interino.

putin é um leitor atento e insaciável de história. como se seguindo o conselho de nietzsche, soubesse que para dominar o futuro (e o presente) é precisa a memória do passado, é precisa a história.

e, na história, longe do determinismo marxista das forças cegas da economia contam os homens e líderes que a fazem e mudam.

uma das personagens históricas favoritas de putin é pyotr stolypin, primeiro-ministro da rússia no tempo do czar nicolau ii, entre 1906 e 1911.

stolypin foi um nacionalista conservador, admirador de bismarck e preocupado com as reformas políticas – como a reforma agrária – que poderiam trazer ao país benefícios económicos e desenvolvimento. foi assassinado em 1911.

putin vem de uma família de sobreviventes: o pai pertenceu a uma unidade especial de comandos que na ii guerra actuavam atrás das linhas alemãs. a sua cidade natal, s. petersburgo, antes leninegrado, sofreu quase três anos de cerco durante o conflito. além desta ancestralidade, putin pertenceu ao kgb do período final, quando a manipulação inteligente das pessoas e dos factos começava a superar a brutalidade dos métodos e fins.

no seu período de dresden (a terra natal de stolypin), a missão de putin era observar os movimentos políticos na alemanha de leste para neutralizar os esforços do ‘puro e duro’ honecker contra o reformista gorbachov.

mais tarde, no período entre o fim da guerra fria e o regresso como sucessor de ieltsin, putin estudou a fundo os problemas de energia na rússia, tema sobre que versa a sua tese de doutoramento.

estudou a importância do factor energético como instrumento do poder nacional. e sob a sua presidência, a retoma da importância do país fez-se a partir dos recursos energéticos – as exportações de gás e petróleo.

no poder tem-se visto que putin é muito mais um nacionalista realista, ao velho estilo dos patriotas russos, que um democrata individualista.

é também o que se terá visto, dizem os seus críticos, nas jornadas eleitorais de dezembro e de março. mas nos próximos seis anos é ele quem vai governar a rússia.