Porque já se fala num segundo resgate para Portugal?

«Portugal não precisa de mais tempo nem de mais dinheiro». A frase, reafirmada no domingo por Pedro Passos Coelho, aquando da sua visita à Suécia, reforça mais uma vez a visão que o governo queria deixar contundente, mas que opiniões externas teimam em contrariar: Portugal deverá precisar de um novo resgate monetário. Como tem evoluído…

em 2010, a europa acordou para a crise, e portugal não foi
excepção. as notícias da dívida grega depressa originaram rumores quanto a uma
ajuda externa ao país, algo que ficou confirmado a maio desse ano, quando o fmi
confirmou o resgate helénico. em novembro seria a vez da irlanda.

em maio de 2011, portugal seguiu o exemplo. o país ia já no
seu quarto plano de austeridade quando o ainda executivo de josé sócrates foi
obrigado a pedir ajuda ao fmi, bce e ue, os três organismos cuja união por cá
ficou conhecida como ‘troika’. o resultado foi a aprovação de um pacote de 78
mil milhões de euros de ajuda externa a portugal.

este programa obrigou o país – a mando da ‘troika’ -, a
implementar sucessivamente medidas de austeridade com vista a reduzir os gastos
do estado, aumentar as receitas e fomentar o crescimento económico. em termos
práticos, e aos ouvidos da população, a palavra ‘austeridade’ trouxe consigo a
redução de salários, aumento dos preços dos transportes públicos, ou cortes no
número de dias de férias, para citar algumas medidas já implementas pelo
governo.

em suma, o pacote de medidas inerentes ao programa de ajuda
externa visa um objectivo: fazer com que portugal regresse aos mercados no
verão de 2013 e que lhe seja possível, a setembro desse ano, pagar cerca de 9,7
mil milhões de euros no valor de empréstimos que foram concedidos ao país.

um sucesso que desviou atenções

este mês, a europa respirou de alívio quando a grécia
negociou com sucesso a reestruturação da sua dívida, leia-se, conseguiu que os
seus credores privados perdoassem cerca de 106 mil milhões de euros da fatia de
dívida grega que detinham. uma condição que tinha de cumprir para conseguir o
acesso a um segundo resgate europeu, na ordem dos 130 mil milhões de euros.

o resfriar momentâneo da crise helénica fez com que as
atenções se voltassem para a outra ponta da europa. começaram a surgir e a
intensificarem-se os receios de que portugal pudesse igualmente necessitar de
um ‘perdão’ de dívida’, face às previsões de que o país não venha a conseguir
pagar o que deve e regressar aos mercados em 2013.

olli rehn, o comissário europeu para os assuntos económicos,
de visita a lisboa na passada semana, evitou falar da possibilidade de portugal
vir a necessitar de nova ajuda externa. mas, lá fora, a imprensa parece cada
vez mais disposta a acreditar que o país já não conseguirá fugir a um novo
empréstimo financeiro.

como temos evoluído

tanto passos coelho como vítor gaspar, ministro das
finanças, têm sublinhado o sucesso da aplicação do programa da ‘troika’, um
sucesso que tem sido encarado como fundamental para estimular a boa imagem do
país aos olhos dos mercados, investidores e credores externos de portugal.


os
dados da crise portuguesa em 2011


indicadores


1.º
trimestre


2.º
trimestre


3.º
trimestre


4.º
trimestre

dívida
pública (%)

94,5

106,6

110,4

pib
(%)

-0,6

-1,1

-1,9

-2,8

défice
(%)

7,7

9,0

3,8

desempregados

688
mil

675
mil

689
mil

771
mil

taxa
de desemprego

12,4

12,1

12,4

14

receitas
(% do pib)

37,8

38,4

42,6

despesas
(% do pib)

45,5

47,3

46,4

.fonte:conheceracrise.com, ine e banco de portugal.

                     

mesmo com os esforços e vontade do governo, a economia do
país não mostra grandes melhorias. numa altura em que, como recordou o wall
street journal, portugal está à beira de chegar aos 60% do montante de ajuda
financeira que já recebeu – em abril chegam mais 14,9 mil milhões de euros -,
alguns dos principais indicadores económicos do país não mostram melhoras
significativas.

até ao terceiro trimestre de 2011 (alguns os valores
correspondentes ao quarto ainda não foram revelados), o estado continuou a
gastar mais do que aquilo que produziu, com as suas despesas a serem sempre
superiores ao valor da sua receita. o dinheiro que portugal deve a terceiros
também aumentou, assim como o seu défice público, graças ao excedente de
despesas que o as finanças públicas do país vão registando.

no plano laboral, há cada vez mais desempregados em
portugal: no último trimestre de 2011, o número rondava as 771 mil pessoas sem
emprego, o equivalente a 14% da população activa portuguesa. em janeiro deste
ano a taxa era de 12,1%, de acordo com dados revelados pelo eurostat.

onde nos levará
 

os nomes de portugal e grécia começaram a andar lado a lado
desde que a crise financeira começou a atingir com maior força a europa. tanto
o governo como os responsáveis europeus sempre quiseram frisar que o caso
português estava distante das circunstâncias helénicas, mas o wall street
journal apontou outro caminho.

«portugal aproxima-se da grécia num ponto principal: o seu
programa de resgate achou que a sua economia iria recuperar de mais e rápido de
mais», defendeu o diário num artigo publicado em fevereiro sobre o rumo que o nosso país está a tomar no mapa da crise.

ricardo santos, analista do bnp paribas de londres, defendeu
no mesmo jornal que «as fracas previsões económicas» e «os enormes desafios a
que consolidação orçamental obriga» tornam «muito improvável» que portugal
regresse aos mercados no verão de 2013. o economista português diz mesmo que o
país precisará de uns 60 mil milhões de euros adicionais para se financiar até
2015.

já em janeiro, michael derks, um analista da fxpro, uma
corretora financeira, frisou que «os credores têm que compreender que portugal
tem muito poucas perspectivas de conseguir pagar a totalidade da sua dívida».
ou seja, prevê que o nosso país chegue a um cenário semelhante ao que obrigou a
grécia a renegociar a sua dívida detida por credores privados.

diogo.pombo@sol.pt