Governo estuda novas taxas para financiar transportes públicos

A necessidade aguça o engenho, assim o professa a sabedoria popular. É o que está a acontecer com as empresas públicas de transportes em Portugal. Com uma situação financeira depauperada, o Governo, administrações e académicos desdobram-se para encontrar novas fontes de receita para equilibrarem as contas do sector, além das vendas de títulos de transporte…

«em nenhuma parte do mundo as receitas servem para cobrir os custos operacionais, muito menos os de investimento», explicou ontem numa conferência sobre o tema a ex-secretária de estado ana paula vitorino.

o discurso está a mudar. no início do ano, pela primeira vez, o presidente de uma empresa do estado admitiu, em público, ser apologista de formas alternativas de financiamento, além das indemnizações compensatórias do estado e das bilheteiras.

silva rodrigues, presidente da carris, defendeu então o estudo de outras formas de captar receitas para o sector através de portagens urbanas, do parqueamento, da taxação sobre as mais-valias imobiliárias e do imposto sobre os combustíveis. os aumentos de mais de 20% em menos de um ano e os cortes na oferta adoptados pelo governo «não resolvem os problemas dos transportes», já disse o líder da antrop, que representa os privados, cabaço martins. três quartos dos prejuízos devem-se ao pagamento de juros à banca.

mesmo quando a operação das empresas de autocarros e metro de lisboa e porto for concessionada a privados, tal como o governo pretende cumprir até ao final do ano, ficará por pagar uma dívida que já atinge os 18 mil milhões de euros e que não pára de crescer.

o secretário de estado dos transportes, sérgio silva monteiro, tem noção da gravidade da situação e já anunciou estar a estudar formas de captar para as empresas as mais-valias imobiliárias geradas por investimentos públicos e de angariar parte da receita sobre os combustíveis na região de lisboa, pelo menos.

estas soluções têm por base duas premissas: os cidadãos que ganham com investimentos públicos devem contribuir e os utilizadores do transporte individual devem financiar os colectivos. «na equação de equilíbrio das contas devem ser incluídas as receitas indirectas, provenientes do imobiliário e dos automobilistas», defende o professor do instituto superior técnico, josé manuel viegas.

já o vereador da mobilidade da câmara municipal de lisboa, nunes da silva, acredita que as receitas dos parques de estacionamento seriam «sem dúvida a melhor forma de encontrar um meio justo e equilibrado de financiar os transportes colectivos». mas a solução poderia pecar por defeito, pois os encargos financeiros anuais são superiores a 700 milhões de euros.

«uma outra forma de obter receita é afectar uma parte do imposto sobre os combustíveis vendidos na região de lisboa. não se trata de aumentar a carga fiscal sobre os combustíveis – já de si muito elevada – mas tão só, nos postos da região de lisboa, atribuir uma parte do imposto cobrado aos transportes colectivos».

frederico.pinheiro@sol.pt