Apesar de não haver dados oficiais, parece que há cada vez mais pessoas a andar de bicicleta em Portugal.
Sim, sem dúvida. Até na Greve Geral houve uma concentração de bicicletas.
Mas é só em Lisboa ou também no resto do país?
É por todo o país. És de Guimarães, não és? E não te dás conta disso?
Sei que há lá concentrações…
Estás a ver?
Tem falado com os vendedores?
Os vendedores não dizem a verdade, porque querem pagar menos impostos. Mas o fisco está a preparar-se para analisar os factores externos de riqueza. Não só para as motos, mas também para as bicicletas. As topo de gama não as consegues encontrar, estão todas vendidas. O que quer dizer que a bicicleta já entrou na classe média-alta do dinheiro. Já há Porsches e Rolls-Royces das bicicletas.
A classe baixa também compra bicicletas?
Compra, desenrasca-se. Mas as bicicletas vendem-se, nota-se o boom de casas a vender.
Há substituição de outros modos de transportes ou é só para passeio?
Sim, há. Mas isto de andar de bicicleta é quase como lançar uma semente e esperar que cresça. É preciso ter condições…
A extensão das ciclovias em Portugal é suficiente?
As ciclovias são necessárias quando existe tráfego intenso. Se começamos a dizer aos automobilistas que necessitamos de ciclovias e elas estiverem vazias é contraprodutivo. Mas também não temos pessoas a andar de bicicleta sem ciclovias.
Um dos entraves é o respeito dos automobilistas?
Vamos agora propor ao Governo alterações ao Código da Estrada que facilitem a utilização da bicicleta. Queremos, por exemplo, que se possa andar na faixa Bus.
Como classifica o estado da indústria nacional neste ramo?
Deixaram-se perder no tempo. Por exemplo, o calçado está no topo, as bicicletas acomodaram-se. No essencial, a bicicleta portuguesa devia ser mantida. Devia por exemplo, estar em África. Já houve oportunidade de abrirem uma fábrica em Angola, mas não o fizeram. Estão lá os estrangeiros.
O que devem as pessoas saber quando compram uma bicicleta?
Precisam de adaptar a bicicleta à sua altura. Deve ter no máximo 15 quilos. Se for de alumínio, já se tem uma bicicleta até aos 300 euros. Deve ter mudanças e o máximo de conforto: faz diferença ter amortecedores. Aconselho as city-bike, um misto entre a BTT e a bicicleta de cidade. As bicicletas baratas não compensam, porque dão muitos problemas.Qual é o segredo para não fechar as portas ao longo de tantos anos? «Nunca ficámos nas mãos dos hipermercados. Deram cabo dos produtores, depois da indústria e agora uns dos outros», sublinha.
O presente não passa por Portugal, pois 70% da produção é vendida para a América do Sul e Europa. E nem o futuro passa por aqui. «Vamos entrar em Angola, Moçambique e Norte de África. Até estamos a desenvolver uma bicicleta para os camponeses», divulga orgulhoso.