O cabrito da Páscoa

Os miúdos recusam-se a comer cabrito (pelo menos, os meus filhos e sobrinhos). Acha que é prato obrigatório para o domingo de Páscoa? Celeste Cardoso.

alentejana que sou, prefiro o borrego. mas são as únicas alternativas aceitáveis.

a páscoa é uma tradição judaico-cristã: o senhor disse a moisés para preparar a páscoa, ou a passagem para a libertação do cativeiro no egipto: «o cordeiro ou cabrito será sem mácula» (êxodo, 12;5). e moisés, cumprindo as instruções do senhor, disse aos anciãos do povo: «escolhei e tomai cordeiros para as vossas famílias, e sacrificai a páscoa» (êxodo, 12;21).

pois é isto que nós, judeus e cristãos, festejamos, embora pela data os cristãos lhe acrescentemos (dando até mais ênfase) a ressurreição de jesus (que morreu sobre os festejos judaicos da páscoa, abrindo outra passagem). depois, podem juntar-se mais coisas pitorescas, como os ovos de chocolate (os ovos enfeitados eram presentes da antiguidade, que enalteciam a vida) ou os portugueses folares (dizem-se inspirados nos pães ázimos judeus). se não, o que significa a páscoa? uma simples disenteria de ovos de chocolate? uma barrigada de folares? ou um fim-de-semana a gozar feriados desprovidos de sentido?

de facto, a miudagem arrepia-se com a carne de borrego ou de cabrito. mas aí temos uma boa oportunidade de testar a nossa capacidade pedagógica. e de legar uma tradição milenária (vem do êxodo, 1447 a.c.) a mais algumas gerações. se querem ser originais, apurem novas receitas: mas de borrego ou cabrito. a não ser, claro, que a crise empurre para uma solução mais em conta.

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