saiu mais uma sentença judicial. o parque mayer vai continuar à espera. a decisão surge na sequência de uma acção interposta pela mesma pessoa que provocou o embargo do túnel do marquês. talvez muitas pessoas não o saibam, mas é um facto.
não vou dizer bem nem dizer mal. tão-só falar de factos. e muitos há para ponderar.
o primeiro é que já lá vai mais de uma década desde que se começou a tentar recuperar o parque mayer. ou seja, na década de noventa do século passado. ainda com joão soares como presidente da câmara, a bragaparques como proprietária e o inglês norman foster como arquitecto.
poucos anos antes, no início dessa década, ainda trabalhavam vários teatros naquele espaço mítico.
iniciei funções como secretário de estado da cultura em janeiro de 1990. meses depois, tivemos de juntar esforços com a câmara municipal de lisboa, já presidida por jorge sampaio, para apoiar a reconstrução do teatro abc, atingido por um incêndio em abril desse ano.
nessa altura, o maria vitória, o ‘abc’ e o capitólio ainda tinham vida. e o variedades ainda lá estava parado, também, por ter ardido. agora, sobrevive o maria vitória. estoicamente.
a questão é essa: a ‘memória’ do espaço e da vivência.
a geração que hoje tem entre 20 e 30 anos não tem qualquer ideia do parque mayer activo. e os mais novos quase nem ouviram falar dele. mesmo a minha geração já não apanhou os ‘tempos de oiro’. a dos meus pais, sim. recordo-me de quantas vezes saíam com os amigos para irem à 1.ª ou à 2.ª sessão da revista à portuguesa – e, depois, jantar ou cear. vinham sempre muito divertidos e animados. entretanto, o espaço foi perdendo energia até chegar ao que está hoje.
este é o ponto: quanto mais tempo passa, mais desligadas estão as pessoas do que o parque mayer significa e do que pode representar na cidade de lisboa.
repito: não digo bem nem mal. mas seria muito diferente se já estivesse para nascer o novo parque mayer no lugar onde actualmente está aquele cenário fantasmagórico.
agora, quando foi inaugurada a ligação do túnel do marquês à antónio augusto de aguiar, muitos jornalistas ou bloguers escreveram «sete anos depois», «quatro anos depois», «dez anos depois», dependendo do marco cronológico a que se reportavam. o mesmo poderia estar a suceder com o parque mayer.
ali, frank ghery não pôde fazer o seu projecto. em belém está quase pronta uma grande obra de um arquiteto brasileiro, paulo mendes da rocha: o museu dos coches. também por convite, também sem concurso. antes, junto ao rio, há dois anos, nasceu outro projecto, esse muito bonito, da fundação champalimaud, projectado pelo goês charles correa. agora, está para nascer mais um, da inglesa amanda levete. vai ser construído em frente do novo museu dos coches, no espaço da fundação edp.
eram precisos? o da fundação champalimaud, totalmente. para o viabilizar, a câmara e a assembleia municipais até suspenderam o pdm, e ainda bem.
as obras só são boas quando são de esquerda
repito: a questão é essa. o tempo vai passando, os artistas mais representativos desse teatro de revista vão-se retirando ou trabalhando noutras frentes (como as novelas) e tudo se vai desvanecendo.
voltar o antigo parque mayer? não, ninguém tinha essa ilusão. um novo, sim! o projecto que idealizámos – sempre com a componente de formação agregada – , incluía uma academia de artes performativas, música, dança, teatro. para dar movimento de juventude e sentido de futuro. um estilo fame! seria mau? não! seria muito, muito bom.
agora já lá vão quinze anos ou mais. lembro-me de um espectáculo na aula magna, em lisboa, com muitos artistas, para se arranjar dinheiro para a reconstrução do abc. jorge sampaio disse que a câmara financiava a obra em si, e eu anunciei que o governo dava um apoio de dez mil contos para as cadeiras na altura, alguns sectores acusaram-me de pouca generosidade na decisão…
2012. o tempo passa e o que irá acontecer mais até o parque mayer voltar a existir? é difícil prever.
se não acreditam, se não querem saber, se não lhes importa, que não se insista. custa dinheiro? custa. mas pode ter muita participação de investidores privados. pode ser consideravelmente equilibrado do ponto de vista económico.
e o casino? continuam a querer dizer que ficava mal ali? quantos espectáculos são constantemente anunciados pelo casino de lisboa? principalmente, com músicos portugueses. seria mau ali? com a academia, com os teatros, com lojas, com bares e restaurantes, com fado…
deus meu, como tudo poderia ser diferente! seria uma autêntica âncora de um novo tempo da cidade, um ícone turístico-cultural mobilizador de muito movimento naquela zona, incluindo muita procura turística.
lembram-se do que disseram do túnel do marquês? até da extensão? já foram ao novo túnel da cril? pouco extenso, não é? e o novo museu dos coches, quanto custa? pouca polémica, não é? alguém sabe se o orçamento inicial está a ser respeitado? ninguém quer saber, pois não?
nada interessa quando a obra é de um sector político. tudo interessa se é de outro. rock in rio? agora é óptimo. volvo’s ocean race? magnífico! a câmara é ‘progressista’, tem o caminho aberto. a america’s cup era elitista, um grande investimento, afectava uma parte da cidade. já se ouviu falar das obras na zona da docapesca? não, deixem estar.
repito: não quero dizer mal. só constato. nunca ninguém me ouviu interferir no que é da justiça. e assim continuo. só constato: vai ser repetido o julgamento sobre a permuta feira popular/parque mayer. os arguidos estão pronunciados por prevaricação. diz a lei que comete esse ilícito penal quem não cuide devidamente do interesse público e aja contra a lei com o intuito de prejudicar ou beneficiar alguém. não vou discutir aqui. mas, a ter havido prejuízo para o estado, terá sido de quanto?
será compreensível que seja o único caso em julgamento sobre prejuízo para o estado, para o interesse público, com eventual benefício de privados? o eventual prejuízo não representará nem 1% do que causaram outras decisões bem conhecidas do estado. culpa da justiça? não o digo. culpa, principalmente, de quem se queixou neste caso concreto.
tenho muita pena que o parque mayer não (re)nasça.
está para começar a obra do capitólio. por enquanto, só isso. devagar, devagarinho. vêm aí eleições autárquicas no próximo ano. portanto, com julgamento e início de obras ao mesmo tempo. outra vez!
francisco sá carneiro disse um dia: «a política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha». eu permito-me generalizar: a política e a vida.
1.º de dezembro
entendo que o feriado do 1.º de dezembro deve continuar. já imaginaram, por exemplo, se os eua acabassem com o feriado de 4 de julho?
o 1.º de dezembro é mais importante do que qualquer dos outros feriados políticos. a liberdade, sendo essencial, não existe sem independência. o amor à pátria vem em lugar cimeiro. podem existir regimes piores ou melhores, ditaduras ou democracias, mas a pátria tem de continuar. se alguém quer instaurar uma ditadura, luta-se, faz-se oposição, o que for possível. mas sempre como portugueses.
não faz sentido festejar qualquer outro feriado se não se celebrar o 1.º de dezembro.
manda a verdade dizer que não é devidamente festejado. tem passado mesmo sem grandes celebrações. mas a mudança deve ser aí: manter, celebrar mais, cultivar devidamente o valor da independência nacional.
não vou discutir se josé ribeiro e castro fez bem ou não ao votar diferente, ou se devia ter-se ausentado, ou feito uma declaração de voto. fez bem em não se calar, isso sim!
pela minha parte, quero aqui deixar bem clara a minha posição: o 1.º de dezembro deve ser feriado nacional.