Erro induzido e ‘calimeros’

A questão da reposição dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos e pensionistas em Portugal é um bom exemplo de como a comunicação cristalina é ainda mais fundamental em tempos de crise.

neste caso, passos coelho está, claramente, em perda. quando anunciou a suspensão dos subsídios, o primeiro-ministro de portugal disse que a medida se manteria durante a vigência do programa da troika. meses depois, ‘atira’ para 2015 a sua reposição gradual, alegando que seria «precipitado» dizer já os termos e o momento exacto em que tal ocorrerá. sem querer ofender o chefe de governo, diríamos que ele induziu em erro os portugueses – e agora foge, com trejeitos de enfado, da polémica que criou. e, sem querer ofender os portugueses, diríamos que eles foram ‘calimeros’ – não é preciso ser doutorado em economia ou finanças para perceber que nunca seria possível, de um ano para o outro, repor o que lhes foi retirado, num país onde não há crescimento económico que se veja nos próximos anos.

resulta claro das declarações que passos tem feito é que os subsídios não vão voltar, por inteiro, nunca mais. e resulta também claro que ele sabe que é bem possível que portugal precise de mais assistência. enquanto líder da oposição, acusou sócrates de não falar a verdade aos portugueses. agora, na chefia do governo, cai na mesma tentação: a tentação das meias-tintas. com isso, está a agravar um problema muito pior do que a crise económica: a degradação da auto-estima dos portugueses e a sua capacidade de acreditar no país e em quem os dirige. não admira, por isso, que cada vez mais cidadãos desejem ardentemente fugir e ‘hibernar’ para fora até que melhores dias venham em portugal. virão mesmo?

ricardo.d.lopes@sol.co.ao