a mefedrona – que foi associada a pela
menos quatro dezenas de mortes no reino unido e na irlanda – tem efeitos
semelhantes aos da cocaína ou
ecstasy
e desde 2010 que havia uma recomendação para a sua
proibição pela comissão europeia.
há menos de 20 dias, a droga passou também
a integrar a lista de substâncias proibidas em portugal, a par da heroína ou da
cocaína.
«a proibição é um claro sinal de que
esta substância traz riscos. mas já há substitutos da mefedrona a circular»
, alerta joão goulão,
presidente do serviço de intervenção nos comportamentos aditivos e
dependências.
o especialista reconhece que mesmo com
fiscalização há grandes dificuldades em controlar este mercado.
«estão
constantemente a ser lançadas novas substâncias, com ligeiras alterações
moleculares para produzirem os mesmos efeitos»,
o que torna também difícil controlar o seu
consumo e sobretudo avaliar os riscos para a saúde destas novas substâncias.
«é um constante jogo do gato e do
rato»
, resume joão goulão.
os efeitos de euforia da mefedrona são
semelhantes aos da cocaína. e são idênticos aos dos produtos que, desde há
cerca de um ano, começaram a ser vendidos em algumas
smart shops
portuguesas e que,
segundo os rótulos, não contém mefedrona. algumas tinham mesmo uma etiqueta
colorida garantindo que não continham esta substância.
«estas drogas têm efeitos semelhantes
à cocaína mas são muito mais baratas»
, diz pedro, que era consumidor de
mefedrona e agora compra pacotinhos semelhantes, mas que já não contém a
substância proibida. cada pacote de
bloom
, um grama, custa numa
smart shop
do bairro alto, em lisboa, 36 euros. um
meio grama não chega a 20 euros e aos iniciados é suficiente para garantir
«uma moca»
durante várias horas,
explica outro consumidor.
as lojas estão abertas de manhã à noite.
todos os produtos vendidos são lícitos e portanto podem ser consumidos em
qualquer local.
«hoje é fácil comprar drogas lícitas, há lojas em todo o lado, abertas
a toda a hora e até têm serviço de estafetas»,
diz pedro.
crises psicóticas e casos de ansiedade
mas as crises de ansiedade e alucinações
provocadas pelo consumo de ‘fertilizantes’ alternativos à mefedrona estão a
deixar preocupados os médicos que combatem o consumo de drogas.
no início do outono, uma série de doentes
com crises psicóticas começaram a chegar às urgências do hospital de faro.
tinham sintomas paranóides: ansiedade, sensação de perigo e de estarem a ser
perseguidos.
«eram pessoas jovens com episódios de
crise psicótica e que tinham consumido drogas legais»
, explica norberto sousa, coordenador da
equipa técnica especializada de tratamento da toxicodepedência do sotavento
algarvio.
«o que nos chamou a atenção foi o
número de casos – cerca de uma dezena – tão concentrados no tempo. foram
atendidos em apenas um mês e meio e foi por isso que alertamos os serviços
centrais»
, diz o responsável,
adiantando terem fortes suspeitas de intoxicação com substitutos de mefedrona,
eventualmente combinados com outras substâncias.
a maioria destes doentes eram jovens _- os
principais consumidores destas drogas. mas não só.
«os casos que conheço são de
poli-consumidores de drogas, já com 40 anos»
, diz o médico.
«como estas drogas são mais baratas e
têm efeitos semelhantes aos da cocaína, que é cara e má no algarve, estes
toxicodependentes começaram a experimentar
», justifica.
o especialista diz que estas drogas legais
têm efeitos semelhantes a estimulantes como o lsd, mas mais preocupantes:
«as alterações do
humor são mais acentuadas do que com as drogas clássicas: muita ansiedade,
muitas crises de insónia»
.
a proibição da mefedrona terá feito os
consumidores virarem-se para outros ‘fertilizantes’ e trouxe ao mercado novos
produtos. «
são substâncias
menos conhecidas e com efeitos menos previsíveis»
, diz o médico.
o administrador das duas
smart shop
magic mushroom, em
lisboa, garante, porém, que os produtos que comercializa são todos livres de
mefredona e que a sua substituição começou no início do ano passado, muito
antes de a droga ser proibida.
«não substituímos a mefredona por
nenhuma substância, nem temos conhecimento de qualquer queixa em relação a
estes produtos»
, disse helder pavão.
