Descontraído, mas com classe

Um almoço descontraído e quase familiar não dispensa a maior parte das regras de etiqueta? – Laura Sobral.

o descontraído não dispensa alguma classe. o que dispensa é a balbúrdia. vamos lá então imaginar um almoço muito íntimo. a mesa deve sempre estar suficientemente bem posta, para nos apetecer lá sentar: talheres alinhados, sem esquecer nunca os de sobremesa (mesmo que se imagine que não haja nada de especial). escolha uma ementa prática, susceptível de estar pronta quando chegam os comensais, para não os abandonar, num irritante afã culinário de última hora (é bom escrever os menus, para os poder variar, sobretudo em relação aos convivas). na hora de levantar pratos, abstenha-se completamente de raspar a comida de uns para os outros (que coisa repugnante, que pecado mortal!), e não os amontoe em pilhas que a justiça divina deveria fazer estatelarem-se no chão em cacos imundos. o vinho (que deve adequar-se à comida servida), se não estiver em self service num buffet, e havendo homem presente, será da sua competência. se tiver uma casa de jantar à mão, ou uma copa, para quê enfiarem-se numa cozinha, cheia de cheiros e desperdícios? os convidados, por muito empenho que tenham em ajudar, não se devem levantar todos à uma (talvez uns dois de cada vez; é deixar os que se antecipam, ou os mais íntimos), para não criarem um caos absoluto e incómodo, que só desajuda.

como diz joana mayer, no seu livro receber com estilo (esfera dos livros), evitemos que «a descontracção vire confusão». a simplificação da vida tem limites, e implica métodos.

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