Sporting: já houve conversa a mais

A honra do Sporting exige que tudo seja cristalino, principalmente a partir do momento em que uma dúvida destas é levantada.

quem ganhará as eleições em frança? que opinião tem de sarkozy? e de hollande?

aqui há meses, pareciam muito difíceis as vitórias de sarkozy e obama nas eleições presidenciais. mas os adversários são tão pouco mobilizadores que estão a transformar vitórias quase certas em derrotas prováveis.

já aqui escrevi que nunca apreciei o estilo e as propostas de sarkozy. mas, sinceramente, não se sente em françois hollande qualquer força catalisadora de alternativa e esperança. quase empatados nas sondagens para a 1.ª volta, continua a balança a pender para o candidato socialista na 2.ª. mas se sarkozy conseguir ficar à frente no domingo, pode ganhar impulso vencedor.

duas personalidades podem ter aqui um papel decisivo. uma é françois bayrou, candidato do centro a quem as sondagens vaticinam cerca de 11% e que, já há cinco anos, com 18%, conquistou essa posição de charneira. a outra é carla bruni, que tem feito intervenções com alguma inteligência, apelando aos eleitores de esquerda e às mulheres. faz o que ségolène royal poderia ter feito ao centro, se tivesse continuado casada com hollande. mas, como se sabe, passou de sua mulher a sua adversária.

o que acha sobre os últimos acontecimentos na guiné-bissau?

tem anos esta instabilidade na guiné-bissau. que se tem traduzido, de tempos a tempos, em factos graves que custaram a vida a várias pessoas, entre as quais alguns dirigentes cimeiros.

no início das minhas funções como primeiro-ministro, tive logo de tomar uma medida firme em relação a um ex-presidente da guiné-bissau que estava a apanhar um avião em lisboa. e depois, durante os oito meses desse governo, foi sempre um dos dossiês mais complicados. carlos gomes era, como agora, o primeiro-ministro.

também à época houve que enviar uma unidade da nossa marinha para as águas territoriais daquele país. ao ouvir algumas notícias destes dias, tenho a sensação de estar a ver cenas de um filme em que já participei.

já à época se falou em ramos-horta como mediador. mas o nível da mediação é uma forma suave para a resolução de conflitos. pode ser necessário mais, e quero crer que vai ter de ser encontrada uma fórmula mais forte. a posição estratégica de portugal e da cplp, o papel de angola, a sensibilidade muito especial de cabo verde, têm aqui especial relevo.

como vê o que está a passar-se no sporting? o problema pode ou não afectar o clube?

prefiro não falar no sporting. independentemente do fundamento dos factos que têm sido propalados, todo o assunto é triste. não tem nada a ver com a identidade, com a cultura, com a maneira de se ser sportinguista.

odeio julgar pessoas na praça pública, mas também detesto que se brinque com assuntos sérios. a honra do sporting exige que tudo seja cristalino, principalmente a partir do momento em que uma dúvida destas é levantada. em minha opinião, já houve conversa, declarações e reuniões a mais, mesmo de quem tem mais responsabilidades. ou é ou não é! como dizia o meu querido pai – que tanto quis ao sporting durante toda a vida – há que ter sempre ‘categoria’. e insistia: mesmo nos momentos mais difíceis, há que agir com ‘classe’.

o rei de espanha está na berlinda por ter participado numa caçada em tempo de crise, e já pedem que renuncie ao trono. que pensa disso?

a ingratidão é muito feia. quanto bem fez o rei a espanha! terá errado agora? terá sido imprudente? quantas vezes já acertou e quantas vezes a sua sensatez, a sua prudência, o seu saber foram importantes para espanha?

é horrível o oportunismo – republicano ou monárquico. querem discutir o regime, a forma de governo? se quiserem, façam-no. mas com elevação. não aproveitem uma queda do rei para uma caça à monarquia.

sem dúvida que os últimos tempos não têm sido bons para a casa real espanhola. mas sejam nobres. o rei juan carlos merece dos cidadãos de espanha, de todas as comunidades, algo que é muito bonito: gratidão e respeito.