Chelsea sofreu, lutou e chegou à final da Liga dos Campeões

Sofrer e sofrer até ao fim, para depois garantir a história. O Chelsea foi a Camp Nou com o magro golo de vantagem que trazia da primeira mão em Londres, e conseguiu, com um empate a duas bolas, ultrapassar um Barcelona que, três anos depois, volta a cair à beira de uma final num buraco…

a semana de antecipação para o duelo de decisões em camp nou culminou com o chelsea a adoptar a mesma estratégia que lhe valera a magra vitória em londres. o treinador roberto di matteo colocou de início os mesmos 11 jogadores que iniciaram a partida da primeira mão e, em campo, as ordens eram as mesmas: todos a defender, com linhas unidas a fechar os espaços, com as apostas ofensivas a restringirem aos contra-ataques e a um solitário didier drogba.

o objectivo era aguentar uma hora e meia de futebol ofensivo do barcelona, que em campo se distribuiu com a ideia de uma ‘remontada’, a expressão espanhola para reviravolta, que ficava visível no arrojo de pep guardiola em posicionar a equipa com três centrais – puyol, piqué e mascherano -, atrás de uma linha de quatro jogadores a meio campo para reforçar a já habitual superior posse de bola, para depois lançar messi, sánchez ou cuenca na frente.

uma fortaleza para meia hora

de início, os ‘blues’ foram aguentando. já antes da partida começar se sabia que a bola estaria quase sempre nos pés dos ‘blaugrana’, os próprios jogadores do chelsea, como frank lampard, o admitiram nos dias que antecederam a partida, e os londrinos queria então impedir que os catalães entrassem com a bola dominada na sua área.

nos primeiros minutos, por várias vezes se assistiu ao barcelona a colocar literalmente os 11 jogadores do chelsea encostados à sua baliza, enquanto tentava encontrar espaços para rematar à baliza de petr cech. do outro lado, gerard piqué ia aguentando as poucas vezes que o poderoso drogba recebia a bola na frente.

logo aos 7 minutos, gary cahill escorregou e contraiu uma lesão que o obrigaria a sair para dar lugar a josé bosingwa, que entrou para a lateral direita da defesa londrina. aos 26 minutos foi piqué a sair, pouco depois de ter embatido com a cabeça no guarda-redes victor valdés. entrou daniel alves para a defesa a três, e o barcelona deixava de ter uma torre física para anular a outra do adversário, drogba.

os ‘blaugrana’ foram ameaçando: tanto o pé esquerdo como o direito de lionel messi falharam, nas duas ocasiões em que o barcelona abriu espaços na defesa londrina. mas, aos 35 minutos, foi uma desatenção do chelsea abrir caminho a cuenca na esquerda, que depois cruzou para busquets encostar para a baliza, já dentro da área.

o golo abalou os ‘blues’, que dois minutos depois viram o seu capitão agravar o cenário ao agredir, com uma joelhada alexis sánchez e a ver logo de seguida o cartão vermelho directo. tudo piorou ainda mais quando andrés iniesta aumentou a vantagem para dois golos, e aqui temia-se o pior para os ingleses.

a fórmula seria mesmo repetida

com o segundo golo sofrido, os londrinos desorganizaram-se, os catalães nas bancadas galvanizaram-se, e previa-se que o barcelona tomasse definitivamente conta da eliminatória. mas, à semelhança do encontro da primeira mão, o chelsea voltaria a marcar quase no final do primeiro tempo.

frank lampard recuperou uma bola a meio campo – como o fizera em londres -, e enviou a bola até a um ramires que já se encontrava a correr e a furar a defesa ‘blaugrana’. desta feira, porém, não havia drogba na área, e o internacional brasileiro decidiu fazer um chapéu perfeito a valdés.

o golo empatava o marcador no conjunto das duas mãos (2-2), mas colocava o chelsea em vantagem na eliminatória, que começou por ser ameaçada logo aos 48 minutos da segunda parte, quando as mais de 80 mil pessoas em camp nou assistiram a algo que com muita raridade acontece: uma grande penalidade de messi não acabar em golo, com o argentino a enviar o seu remate contra a barra da baliza.

um penalti que destabilizou

daí em diante, assistiram-se a mais coisas pouco comuns em camp nou. mesmo indo criando algumas oportunidades para marcar, os jogadores do barcelona, perante a novidade de estarem em desvantagem numa eliminatória, passaram a jogar mais com o coração. menos organizados, a falhar alguns passes e a recorrer em demasia a passes por alto e remates de longe como resposta à seca de ideias que, por vezes, a equipa denotava.

o chelsea agradecia, tinha que se deslocar menos a defender, os seus jogadores tinham agora que cortar bolas que vinham de frente, ao invés de correrem atrás do ‘carrosel’ habitual que os ‘blaugrana’ de guardiola costumam alimentar. até messi errava mais vezes, ao perder várias bolas em duelos individuais com os jogadores ingleses.

nesta altura, drogba fechava no lado esquerdo como um defesa – lembrando samuel eto’o, na muralha que o inter de mourinho erguera em 2009, também em camp nou -, e o chelsea abdicava quase por completo do ataque. nem as entradas de kalou e torres mudariam esta mentalidade. 

messi ainda se soltou do estado de espírito que se abatera sobre a equipa, e conseguiu rematar ao poste da baliza de cech, aos 85 minutos, com o guarda-redes checo depois a fazer duas defesas decisivas para possibilitar o que, já quase no final da partida, viria a acontecer.

já em tempo de compensação, os ‘blaugrana’ colocavam quase todos os jogadores perto da área do chelsea, à procura do golo que desse a passagem à final. mas, uma bola perdida seguida de um pontapé para à frente encontrou um fernando torres que estava sozinho, à espera do meio campo, que depois teve apenas que percorrer metade do campo, antes de fintar valdés e confirmar a segunda final da liga dos campeões na história do chelsea.

um chelsea a sofrer no 6.º lugar da premier league, com uma época recheada de sobressaltos, volta a chegar à final da liga dos campeões de novo num ano em trocou de treinador a meio da temporada. 

em 2008, fora avram grant a tomar as rédeas deixadas soltas por mourinho e chegar até à final perdida com o manchester united de cristiano ronaldo, agora, foi o italiano di matteo a fazer renascer uns ‘blues’ que andré villas-boas deixara de rastos, e a eliminar a equipa que, nos últimas três anos, foi quase unanimemente considerado a melhor do mundo.

um barcelona que, em menos de uma semana, caiu na europa às portas de uma final, e deixou que o seu eterno rival, o real madrid, fosse a sua casa arrancar um vitória que os deixa com uma margem confortável para conquistar a liga espanhola. resta a copa do rey aos ‘blaugrana’ de pep guardiola, que será disputada frente aos bascos do atlético de bilbau.

(artigo actualizado às 22h05.)

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