a avaliação dos imóveis, segundo o instituto nacional de estatística (ine), recua há dez meses consecutivos; nos últimos dois anos tombou 10,8%; e existem 724 mil casas para venda… que quase ninguém está a comprar. destas, cerca de 170 mil são novas.
«isto terá um impacto muito forte na economia», prevê o economista pedro lains. «tem de se transferir para os bancos parte do risco de crédito».
no primeiro trimestre do ano, os portugueses entregaram 2.300 imóveis aos bancos por serem incapazes de pagar os empréstimos, um valor 74% superior ao registado no ano passado. segundo as estimativas da_apemip – associação dos profissionais e empresas de mediação imobiliária de portugal, divulgadas esta semana. e o seu presidente, luís lima, colunista do_sol, teme «o colapso do sector do imobiliário e da construção», por todos estes factores que agora se conjugam.
as casas entregues ao sector financeiro são depois recolocadas no mercado a preços muito inferiores – porque os bancos querem ‘livrar-se’ destes activos que pesam no seu balanço –, pressionando ainda mais os restantes imóveis. «a política de austeridade e o desemprego», segundo reis campos, presidente da confederação portuguesa da construção e imobiliário são as causas da entrega das casas aos bancos. e a escassez de crédito para a compra de casa está a esmagar o mercado. «depois das medidas de apoio à banca, suportadas pelos portugueses, exigia-se que esse esforço fosse repercutido na economia. esta situação do imobiliário pode arrastar a banca, é uma situação limite».
‘a caminho de espanha’
o presidente da apemip teme «que estejamos no mesmo caminho de espanha». luís lima alerta para o facto de 60% dos detentores de casa «serem pobres». «tenho sensibilizado a banca para olhar para esta questão de uma forma fora do normal: é preciso fazer carência do pagamento da prestação durante um ou dois anos, pois isto começa a atingir níveis incontornáveis», defende.
outro dos principais problemas da desvalorização das casas é que muitos portugueses continuam a dever dinheiro ao banco após entregarem a casa. «é a geração dos entalados», considera o presidente do_iseg, joão_duque. o economista sugere que os bancos aluguem as casas penhoradas aos antigos proprietários, com uma renda mais baixa. rejeita, porém, a transferência do risco do crédito para os bancos, como sugere lains. «pode haver maior compreensão, mas de forma faseada de forma a não prejudicar a rentabilidade dos bancos».
‘bancos têm de acordar’
os bancos, contudo, correm o risco de estarem a encher os seus balanços com activos indesejados. «pode ser uma bomba-relógio para os bancos, que têm investidos no sector 110 mil milhões de euros», diz luís lima. já o presidente da consultora cbre portugal, pedro_seabra, acredita que «os bancos vão encontrar mecanismos para dar destino a estes activos».
o economista joão duque sugere a «constituição com as seguradoras de patrimónios que sirvam de base às pensões e seguros de longo prazo». não serão activos tóxicos? «há sempre a possibilidade de colapsar em tudo, mas se isto continua assim a banca terá de assumir perdas avultadas», sublinha.
pedro lains, professor do instituto de ciências sociais, apela aos bancos «para acordarem para o que está a acontecer, caso contrário a crise bater-lhes-á à porta de novo».