com a curta distância entre os dois primeiros que passam à segunda volta – hollande e sarkozy – e com quase o dobro dos votos do candidato da esquerda radical – jean-luc mélenchon – marine le pen e a frente, ou melhor, os seus eleitores, são os árbitros da segunda volta.
qualquer dos finalistas vai ter de atrair o máximo destes eleitores, até por que são aqueles que, por definição, estão livres de compromissos. mélenchon e eva joly já endossaram hollande, o que lhe dá 43% (o total da esquerda) e os eleitores de bayrou devem votar sarkozy.
marine le pen deu uma volta à imagem da frente, sem afastar os routiers do tempo do seu pai. retirou do léxico ‘frentista’ alguns sinais mais extremistas e fez um partido nacionalista, justicialista e popular. conseguiu também o regresso dos ‘mégretistas’, os quadros da nova direita da cisão de há 14 anos.
o seu grande tema é a nação, como valor político principal e agregador. mas há também o eurocepticismo e a preferência nacional e identitária.
a importância deste sucesso, vencendo uma forte demonização mediática, é que num país europeu grande, por isso com alguma liberdade de opção, surge uma força nova que põe em questão a dicotomia actual da política europeia – esquerda social-democrata versus direita liberal.
a frança está em decadência desde 1870-71. em duas guerras europeias foi salva pela intervenção americana, conheceu o trauma da guerra e descolonização da argélia, e passou pela ilusória grandeza gaulista. está hoje – économie oblige – numa situação de colagem subsidiária à alemanha.
para uma nação que enfrenta os perigos ou fantasmas da decadência, da insegurança e do empobrecimento faz sentido o discurso de le pen da importância da nação, do primado do político e da afirmação de valores de orientação permanente.
que vai ela fazer com estes 20% de votos? para já diz que se abstém. se os seus eleitores a seguirem, sarkozy perde. o que deve acontecer é que uma parte segui-la-á, outra votará por sarkozy, outra por hollande.
da partilha relativa destes eleitores dependerá a sorte de sarkozy que, com os votos da primeira volta, mais os de bayrou e outros pequenos partidos da direita está perto dos 40%.
contrariamente ao cliché banalizador, nem sempre as eleições se ganham ao centro. esta, pelo menos, não.