No Porto, as pessoas vestem-se melhor

Se Hollande ganhar…Domingo, se Hollande ganhar, pode começar um ciclo novo no sistema de governo francês.

lá, ao contrário de cá, nem os presidentes nem os jornais fingem que são politicamente neutros. lá, ganhando hollande, haverá eleições legislativas logo a seguir, para o presidente poder contar um governo da sua cor. e para o país ter uma governação coerente. por cá, quase ninguém entende isto – e os que entendem fingem que não percebem.

ora, se sair um governo de esquerda dessas legislativas, teremos provavelmente martine aubry, líder do ps, como primeira-ministra. em frança, os líderes partidários costumam candidatar-se à presidência da república e não a chefes do governo – só que o ps fez primárias para escolher o seu candidato, e foi hollande quem ganhou. aubry aceitou a derrota, tem lutado ao lado do candidato escolhido pelo partido que lidera e pode vir a chefiar o governo. interessante, não é? seria possível por cá?

mas, se assim acontecer, teremos uma nova experiência na história dos sistemas mistos (sobre os quais publicarei, em breve, um livro). pelas grelhas tradicionais da doutrina clássica, sendo aubry a líder do partido deveria ser ela a liderar a governação. mas em frança não é tradição ser assim. o presidente preside ao conselho de ministros – e, além disso, pode mudar de primeiro-ministro quando entender (poder que não existe mas que foi criado por costume constitucional).

já sarkozy respondeu que, se for ele a ganhar, o primeiro-ministro será o líder da maioria. só que, tradicionalmente, esse líder é o presidente… estes sistemas mistos dão, de facto, para quase tudo… fazendo publicidade, falo muito disso nesse novo livro sobre o braço-de-ferro institucional.

o fantasma de leiria

as entidades com autoridade no futebol têm de ser intransigentes com as exigências financeiras na inscrição de equipas nas ligas profissionais. o que está a passar-se neste final de época é muito perigoso para a credibilidade das competições.

é muito difícil essas provas decorrerem com muito pouco público nos estádios (embora com razoáveis audiências televisivas). se não se puser cobro a situações como a que se tem passado em leiria, será o descrédito definitivo.

ainda falam em alargamento! haja decoro. defendo há muitos anos que a 1.ª liga deve ter dez clubes, com três voltas. como noutros países da europa de dimensão equivalente. os estádios têm de estar cheios, os clubes têm de fomentar massas associativas que dêem receitas no merchandising e nos direitos televisivos. têm de nascer novos bragas. mais ilusões podem dar cabo de muito mais do que dos próprios.

o gosto do norte

há um gosto especial no porto, no norte. dá-se por isso na arquitetura, no design, em hotéis, em espaços comerciais.

é por o norte ter dois prémios pritzker na arquitectura? não, embora isso também não seja por acaso. é por o estádio do braga ser um caso? também não, embora souto moura tenha já visto essa obra ser muito referenciada. é pela beleza do edifício da cadeia da relação, onde esteve camilo castelo branco? também não. é por existir serralves, essa fundação filha do estado e de empresários privados? também não. pelo majestic? pelo soares dos reis? pelas quintas do minho? pelo palácio da bolsa?

é por tudo junto. pelos restaurantes, pela cafeína, pela marginal restaurada, pela relação fantástica entre um porto modernizado e uma gaia renascida pelas obras de dois autarcas muito diferentes que devem orgulhar-se dos três mandatos que estão a completar.

e qual será a razão de ser desta diferença? a maior proximidade ao norte da europa? a influência inglesa? não creio. mas nota-se até na maneira de vestir de alguns com mais recursos e mais preocupados com as respectivas imagens. quem não reparou já nos sapatos mais castanhos, nas camisas mais às riscas largas azuis e brancas, de boas marcas? entra-se em casas particulares, em escritórios, e sente-se que estão mais à frente. mais minimalistas. leiam a revista attitude?, do porto para todo o mundo.

como já referi outras vezes, no porto, em braga, em aveiro, no norte, até em coimbra, vai nascendo uma nova estrutura empresarial, também nas novas tecnologias, com micro ou pequena dimensão, por vezes com ligação a universidades, querendo saltar por cima da crise. cada vez mais, na minha vida profissional, lido com eles. aliam inteligência e gosto na criatividade que os move.