Fim da austeridade, a condição da esquerda radical

Começou hoje o primeiro de três dias que a coligação da esquerda radical terá para tentar reunir uma coligação governativa na Grécia. O SYRIZA, pela voz do seu líder, Alexis Tsipras, já apresentou os cinco pontos sobre os quais assentarão as negociações com os restantes partidos. E a base que os sustenta é clara: a…

ao início da noite de ontem, segunda-feira, antonis samaras anunciava o falhanço da sua tentativa em formar uma coligação que permitisse atingir uma maioria parlamentar na grécia. o seu partido, a nova democracia (nd), foi o mais votado (18,85%) nas eleições legislativas de domingo.

link: taxa de abstenção foi mais elevado do que percentagem do partido mais votado.

com 108 mandatos para o parlamento – também graças à lei grega que atribuiu automaticamente 50 lugares ao partido mais votado -, os conservadores de samaras tiveram o direito à primeira ‘tentativa’ para negociar com os restantes partidos, com vista a reunirem uma coligação.

assim, o nd, sob ordem de karoulous papoulias, presidente helénico, tinha três dias para erigir uma coligação que lhe permitisse ocupar, pelo menos, 151 dos 300 assentos parlamentares em atenas, capital do país. mas, ainda nem as primeiras 24 horas tinham terminado, e já samaras anunciava insucesso.

a falha abriu caminho ao syriza, a união de esquerda radical, que terá agora os seus três dias para tentar reunir uma coligação, graças aos 16,78% dos votos coleccionados (ver gráfico) que lhe deram o segundo lugar nas eleições e os respectivos 52 lugares no parlamento.

os votos que ‘rejeitaram o acordo de resgate’

esta terça-feira, após uma reunião com o presidente, e ao contrário do que fizera samaras, alexis tsipras revelou os pontos que servirão de base às negociações com os restantes partidos.

porém, antes de apresentar os cinco pontos, o líder do syriza criticou tanto o nd de samaras como o pasok de evangelos venizelos, o terceiro partido mais votado. os dois grupos políticos formaram o executivo de salvação nacional que governou até às eleições de domingo, e que tsipras preferiu antes apelidar de um executivo de «salvação do memorando» da ‘troika’.

ao ekathimerini, o líder de esquerda disse que seria uma «violação» aceitar a proposta que o nd fizera ontem com vista a uma coligação, evocando que os votos recolhidos pelo syriza simbolizam «uma rejeição ao acordo de resgate».

«estamos preocupados principalmente com a direcção em que o país será governado, e se a vontade do povo será respeitada», sublinhou o político de 38 anos. dito isto, tsipras passou a delinear os cinco pontos que perfazem a base de negociação com que o seu partido enfrentará os três dias que dispõe para negociar uma coligação.

a base que vai contra a austeridade

– o cancelamento imediato de todas as medidas destinadas a empobrecer ainda mais o povo grego, como os cortes nas pensões e nos salários;

– o cancelamento imediato de todas as medidas que visam enfraquecer os direitos fundamentais dos trabalhadores, como a abolição dos acordos colectivos de trabalho;

– a abolição imediata da lei que garante a imunidade judicial aos deputados. reformar a lei eleitoral e realizar uma revisão geral do sistema político do país;

– iniciar uma investigação aos bancos gregos e publicar uma auditoria realizada pela blackrock – uma empresa norte-americana, considerada uma das maiores no ramo da gestão de activos -, ao sector bancário do país;

– formar uma comissão de auditoria internacional para investigar as causas do défice público grego, adiando todos os serviços relacionados com a dívida até que as conclusões da auditoria sejam publicados;

a cara do syriza revelou-se ainda disponível para negociar com todos os partidos que obtiveram votos nas eleições legislativas, excepto com os neo-nazis do golden dawn – amanhecer dourado -, que com os 6,97% recolhidos vão pela primeira vez estar presentes no parlamento helénico, com 21 lugares.

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