6 de Maio – o outro retrato

Vamos ver os números: François Hollande teve no domingo 18 milhões de votos e Nicolas Sarkozy cerca de 17 milhões. Ficaram separados por 1.160.000 votos, num universo de 43 milhões de eleitores.

hollande conseguiu o pleno das esquerdas – da esquerda socialista, das esquerdas radicais de mélenchon e ainda de parte dos ‘centristas’ de bayrou, que publicamente votou por ele. tudo isto integrando uma forte componente anti-sarkozy.

sarkozy só tinha um caminho na segunda volta: mobilizar os eleitores da frente nacional (fn). precisava de dois terços, senão de 70% deles.

a direita gaulista não fez outra coisa na v república senão, usando os mecanismos eleitorais do sufrágio, conseguir assim a maioria, num país onde os media estão à esquerda e os eleitores à direita.

marine le pen afirmou publicamente o voto em branco. para a frente nacional, força política independente, uma fragmentação da direita centro-conservadora é a hipótese mais provável de crescer, num tempo em que o fracasso das políticas moderadas está inscrito em muitos cenários.

a outra hipótese era uma solução ‘à italiana’ – o pacto berlusconi-fini, que levou a direita ao poder a sul dos alpes. pouco provável em frança pela demonização mediática da fn.

a outra eleição foi a grega. ali também os partidos históricos dominantes, o socialista pasok (41 deputados) e o conservador nova democracia (108) ficaram, somados, a dois lugares da maioria no parlamento de 300 lugares. os partidos fora deste consenso, à esquerda a coligação syriza com 52 deputados e os comunistas com 26, e à direita os nacionais populares dos ‘gregos independentes’ com 33 deputados e a aurora dourada neofascista com 21, acabam por somar praticamente o mesmo. (há ainda o dimar, da esquerda socialista, pró-europeu, que obteve 19 deputados).

a conclusão importante a tirar do 6 de maio é que em dois países da união europeia – a frança e a grécia – confirmou-se a tendência da quebra do apoio popular ao centro europeísta, parlamentar e globalizante – e cresceram ‘à esquerda’ e ‘à direita’ as forças que contestam o pensamento dominante.

retirando o geometrismo ideológico, há a afirmação em frança de uma esquerda revolucionária (que representa cerca de 12% dos eleitores) e de uma direita nacionalista, que aproxima os 20%. na grécia, a esquerda revolucionária vai aos 25% e a direita identitária a cerca de 20%.

este é o outro retrato do 6 de maio.