Gregos estão a tirar o seu dinheiro dos bancos

Confirmado que está o regresso às urnas para novas eleições, a 17 de Junho, os gregos parecem temer cada vez mais o cenário que as instituições europeias tanto querem evitar: a saída do país da zona euro. Com o anúncio de novas legislativas, a população helénica começou já esta semana a tirar as suas poupanças…

os avisos começaram a surgir assim que os resultados das
eleições a 6 de maio se começaram a compor. a ascensão da coligação de esquerda
radical, o syriza, segundo partido mais votado, abriu a porta às dificuldades
que viriam a contribuir para que fosse impossível chegar a um consenso para
formar um governo unitário.

a guerra aberta do partido de alexis tsipras com a nova
democracia (nd) e o pasok, os dois que negociaram o acordo com a ‘troika’,
esteve na base das divergências que impossibilitaram um consenso. a rejeição
total do memorando, defendida pelo syriza, chocava com a renegociação do acordo, que era defendida pelos
dois partidos ao centro do mapa político grego.

ao fim de nove dias de avanços e recuos, o falhanço foi
anunciado e novas eleições foram marcadas, ao mesmo tempo que um governo
interino era incumbido de guiar o país até 17 de junho. antes, porém, os gregos
começaram logo a prevenir o que de pior se adivinha para o país.

esvaziar os bancos

na segunda-feira, quando já se começava a falar de novas
eleições como o cenário mais provável, nas ruas, a
preocupação atingia o seu limite.

só nesse dia, os gregos terão retirado, em conjunto, mais de
700 milhões de euros das suas contas bancárias. a razão parece ser simples:
uma saída do país do euro, e o subsequente regresso ao dracma, antiga moeda
grega, traria consiga uma elevada desvalorização da divisa. portanto, os gregos
ficarão a perder, pois o valor real do seu dinheiro decrescerá.

como tal, os gregos têm vindo a transferir as suas poupanças
para contas alojadas em bancos estrangeiros, vistos como mais seguros e viáveis
aos olhos da população.

a informação terá sido avançada, escreve o kathimerini, pelo
próprio karoulos papoulias, presidente grego, durante uma reunião com os
líderes partidários. hoje, o mesmo diário, citando a reuters, atira que também
na terça-feira um montante semelhante terá sido retirado das contas dos bancos
gregos.

«todo o sistema bancário grego está em perigo: os bancos
estão a enfrentar o pior de todos os cenários, o da fuga dos depósitos»,
explicou arnaud poutier, director da ig markets francesa, uma empresa
financeira. mas a tendência não é nova.

o the guardian construi um gráfico, baseado em dados de
analistas económicos da ‘city’, área da cidade de londres onde se concentram as
suas principais empresas financeiras, para mostrar que os depósitos nos bancos
gregos têm vindo a emagrecer, pelo menos, desde 2010. em números, os bancos
gregos terão já visto fugir-lhes 72 mil milhões de euros.

o diário britânico fez hoje capa com o anúncio de que uma
eventual saída da grécia da zona euro teria um custo total de 1 bilião de euros,
valor estimado pelo centro de pesquisa económica e de negócios. porém, o
montante atirado corresponde ao caso de a saída ser descontrolado e mal gerido.

europa mantém
esperança

desde que os votos saídos das urnas, a 6 de maio, deram uma
fragmentação dos resultados na grécia, que as instituições europeias se uniram para dar um sinal de alarme.

desde então, e de um modo quase sincronizado, que os líderes europeus têm lançado avisos dirigidos à grécia. «cumpram os
termos do acordo, e o dinheiro continuará a fluir», foi esta a mensagem geral
do alerta.

hoje foi a vez de durão barroso, presidente da comissão
europeia. «gostava de reafirmar, de um modo muito claro: queremos que a grécia
continue na zona euro. e a ue fará tudo o que for necessário para o assegurar»,
disse, perante a assembleia-geral das nações unidas.

ontem, quarta-feira, tinha sido mario draghi, líder do bce,
a «afirmar que a forte preferência é que a grécia continue na zona euro». ao
abordar o esvaziamento das poupanças nas contas bancárias gregas, o italiano
defendeu que a situação «ficará estável assim que o governo estiver formado».

por essa altura, a grécia deverá receber uma nova visita do
fmi. o director dos assuntos externos, david hawley, garantiu que o organismo
tenciona reunir-se com o novo governo grego assim que este estiver formado. na
mente de todos estará, porém, o contágio das consequências da saída helénica do
euro, principalmente para a economia espanhola.

«a zona euro não está em perigo por causa da resistência
grega, mas antes pelas políticas de bancarrota do memorando, do sistema
político de ontem», defendeu tsipras, a cara do syriza. seja de quem for as
culpas, certo é que os cidadãos gregos já estão a antecipar o pior dos cenários.

diogo.pombo@sol.pt