Mastiksoul: Pastilha com groove

Foi nomeado o quinto melhor produtor do mundo, editou mais de 200 músicas em vinil e os seus temas chegam sempre ao top 100 do Beatport. Agora, o DJ e produtor Mastiksoul acaba de lançar o terceiro álbum, Mastiksoul Forever.

poucos sabem que fernando figueira, 36 anos, conhecido como mastiksoul, começou por ser dançarino. «é difícil de acreditar por causa destas bochechas e desta barriga. por volta de 1986 estava num grupo de breakdance e dávamos shows no casino estoril», conta o produtor e dj ao sol. chegou a participar em campeonatos internacionais, mas entretanto começou a gostar da moda que aparecera na época, o acid house. «agarrei-me a isso. comecei a tocar por brincadeira com os amigos».

agora, o dj com raízes angolanas acaba de lançar o seu terceiro álbum, mastiksoul forever, que diz ter feito numa semana.

mastiksoul forever já entrou no top 20 dos discos mais vendidos em portugal. «para mim é como se estivesse no número um. sou realista e sei que a música de dança não tem a mesma força». apesar de ser o terceiro álbum, mastiksoul já tem mais de 200 músicas editadas em vinil.

é um dos dj e produtores portugueses com mais actuações e prémios no estrangeiro, tendo tocado nos melhores clubes do mundo e colaborado com grandes nomes da música electrónica. foi o único português distinguido com uma nomeação na categoria de best house artist nos beatport’s music awards 2009, os prémios da maior loja de música electrónica online. «são nomeações justas porque são pelas vendas e não pelos meus bonitos olhos».

quanto ao seu estilo, mastiksoul apelida-o de groove africano. «sou africano e tenho aí as minhas raízes musicais». de facto, a curiosidade pela música começou ainda em luanda quando ajudava eduardo paim. «quando era pequeno frequentava muito a casa dele e via-o a tocar todos os instrumentos. para mim era um deus». outro músico com quem tinha uma relação próxima era martinho da vila, que tratava por tio. «nem tinha noção de quem ele era. para mim era o tio. era amigo dos meus pais e quando ia a angola ficava na minha casa».

de taxista a produtor

nasceu em angola mas aos seis anos veio para lisboa, onde ficou até aos 17. fez as malas e partiu sozinho para frança. «desviei-me dos estudos. comecei nas festas malucas e adorava aquele andamento. dei-me muito bem com o karl lagerfeld e com o jean-paul gaultier. achavam piada ao puto mulato de 17 anos todo pintas».

regressou temporariamente a lisboa, onde fez a tropa, e rumou depois a londres, onde foi estudar som e produção. acabou por não ficar com o diploma porque não teve dinheiro para o pagar. «era um curso que custava 10 mil libras». começou então a trabalhar como taxista para se sustentar, apesar de não conhecer a cidade. «as pessoas entravam no táxi e eu dizia para me indicarem o caminho. achavam imensa graça».

voltou à escola, travou amizade com um israelita e juntos fizeram músicas para anúncios da bbc. «comecei a fazer experiências no estúdio dele e enviei para uma distribuidora inglesa. passados três dias ligaram-me, queriam editar o disco». pouco depois chegou outra proposta irrecusável: «era para fazer a minha própria distribuidora, com 20 ou 30 editoras dos melhores dj ingleses. depois fundei a minha própria editora. de repente, passei de taxista a uma referência mundial».

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o nome mastiksoul tem origem numa pastilha israelita e foi-lhe dado pelo seu colega. «ele achava piada ao meu groove afro e começou a chamar-me mastik. decidi pegar nesse nome, eles diziam para não levar isso a sério, afinal estavam a chamar-me pastilha elástica. diziam que era o funky chewing gum».

durante uma carreira com quase 20 anos, mastiksoul passou por inúmeras situações caricatas. recorda especialmente uma no bahrein, dois dias antes do conflito. «tive a infelicidade de passar uma música árabe no meio do set. ficaram tão contentes que um segurança do sheik – o bar era dele – chegou com uma garrafa de [champanhe] cristal, dizendo-me que o sheik queria que voltasse a pôr aquela música. a cada meia hora lá punha aquilo.

disseram-me logo: ‘o sheik manda vir já o jacto e leva-te a casa’». acabou por não ir de jacto, mas o sheik mandou atrasar o avião e foi acompanhado por uma guarda até ao aeroporto. em hong kong foi parar a um after hours na casa do filho de silvio berlusconi. e em pequim tocou num clube em que apareceu a polícia para desligar a música. «ainda pensei que ia preso».

diz que o seu único vício é o tabaco. «não bebo álcool nem me drogo. nem sequer saio à noite, só quando me pagam. uma vez fumei um charro e jurei para nunca mais. fiquei tonto e senti-me fora de mim. gosto de estar no controlo da situação».

o próximo grande desafio chega já para o mês que vem. «chama-se bernardo. é o meu segundo filho. é um projecto ao qual me vou dedicar a 100%». l

rita.osorio@sol.pt