do ponto de vista político, faz todo o sentido que países que falam a mesma língua procurem criar condições para reforçar as trocas comerciais e os investimentos. do ponto de vista económico, faz sentido… ou não.
nas economias de mercado, são os empresários quem decide onde investir e para onde querem vender os seus produtos. o poder político, ou seja, os governos, devem limitar-se a criar condições para que os investimentos cruzados sejam facilitados e para que as trocas comerciais sejam favorecidas. de resto, quem tem dinheiro, ou seja, os empresários, sabe onde aplicá-lo, e não é saudável que sejam os estados, ou os políticos, a dar ‘palpites’ sobre os investimentos.
no caso da cplp, o poder político, apesar das cimeiras, nunca criou condições assim tão especiais para que os empresários de uns países invistam nos outros. mas não foi por isso que deixou de se fazer negócio: os investimentos angolanos em portugal ou moçambique são um bom exemplo – a maior parte é, hoje, de privados. mas também são bons exemplos os investimentos portugueses em angola, moçambique, cabo verde ou brasil. ou os brasileiros em angola e portugal. a lógica é sempre a mesma: a língua e a cultura comuns ajudam, mas o que realmente é relevante é ganhar dinheiro. o dinheiro ‘sabe’ para onde ir. não precisa de conselhos políticos especiais.
importa, por isso, que a declaração assinada esta semana em luanda passe dos actos à prática. e, entre as várias ideias – importantes – que constam no documento, talvez a mais relevante seja a criação de um fundo de investimento da cplp, capaz de dar músculo financeiro aos empresários que precisam de dinheiro para diversificar as suas apostas. resta saber em que condições e de que forma pode ser feito esse fundo. provavelmente não é fácil – o dinheiro escasseia na maior parte dos países da comunidade –, porque se fosse os ministros teriam anunciado a sua criação como um dado adquirido. e não o fizeram.
a chamada ‘lusofonia económica’ tem condições para crescer, porque se trata de um mercado de quase 300 milhões de pessoas. mas a cplp não existe como ‘comunidade económica’, nem tem voz única na cena internacional dos negócios. será que tem de ter?