a fragmentação dos votos nas primeiras legislativas compôs
um cenário político na grécia que se resume a duas posições: os partidos pró-‘troika’
e os outros que estão contra o memorando.
de um lado, o pasok e a nova democracia (nd), os socialistas
e conversadores que assinaram os dois acordos de resgate financeiro ao país. do
outro, partidos como a coligação de esquerda do syriza, que defendem uma
renegociação do acordo para aliviar a austeridade no país.
esta divisão contribuiu
para o insucesso nas várias tentativas para formar um governo de coligação, e
obrigou a novas legislativas no país, que estão agendadas para 17 de junho.
à medida que o país se aproxima do regresso às urnas, líderes
e instituições europeias têm enviado avisos sobre o risco de a grécia sair do
euro caso não cumpra com o acordado com a ‘troika’, face às intenções de
renegociar as medidas nele inseridas. assim, a europa tem encarado as novas
eleições como um autêntico referendo à vontade dos helénicos em permanecerem no
euro.
mas os gregos parecem não temer, nem levar a sério, os avisos que têm chegado.
«ninguém nos pode forçar a sair do euro. agora que estamos
aqui, têm que levar connosco», defendeu um funcionário de uma pastelaria em
atenas, como escreveu o kathimerini, ao citar um retrato à população feito pela
agência reuters. «se mudarem as leis para nos forçarem a sair, então deixará
de existir zona euro», acrescentou.
de facto, tantos os líderes europeus como os mercados
financeiras temem os efeitos que o regresso da grécia ao dracma, a sua antiga
moeda, poderia causar nas restantes economias fragilizadas do euro, como
portugal e irlanda, que já receberam ajuda externa, ou a espanha e itália.
«os grandes partidos [pasok e nd] trouxeram-nos até aqui, à
pobreza e ao suicídio, e agora estão a aterrorizar-nos para nos fazer aceitar
medidas duras», disse argiro mariati, um comerciante da capital helénica, ao
falar dos avisos que o socialista evangelos venizelos e o conservador antonis
samaras têm feito, ao alertarem para as consequências que o país enfrentaria
caso abandonasse o euro.
«são ameaças vazias», disse nikos sokos, funcionário de
outro café em atenas. «não há maneira de nos expulsarem [pois] não haverá zona
euro se o fizerem», explicou. «estão só a ladrar para nos assustarem, mas são
eles que estão assustados», disse ainda depois.
as últimas sondagens divulgadas mostram que 75% da população
helénica quer que o país permaneça no euro. mas, por outro lado, mais de dois
terços afirmaram ser contra o memorando com a ‘troika’, duas posições que vão
contra o que os líderes europeus têm veiculado: sem acordo, a grécia não pode
ficar no euro.
a 17 de junho, os gregos traduziram de novo em votos o modo
como encaram a tragédia política em que estão mergulhados.