Exército chumba 30% dos candidatos por perturbações mentais

Um terço dos jovens que se candidatam ao Exército são rejeitados por não terem um perfil psicológico adequado. Muitos dos chumbos devem-se também ao facto de os candidatos terem excesso de peso e ouvirem mal.

todos os jovens que concorrem à carreira militar – ainda na semana passada decorreu a mais recente incorporação de praças – são sujeitos a testes físicos e a exames psicológicos intensos. o objectivo é apurar as suas capacidades motoras e despistar eventuais problemas do foro psicológico.

segundo dados fornecidos ao sol pelo exército, 30% dos candidatos a praças ‘chumbam’ devido a «perturbações mentais e de comportamento». na prática, isto significa que o jovem não apresenta um perfil psicológico adequado às funções militares.

os problemas mais comuns são tendências suicidas ou predisposição para matar de forma indiscriminada. «há pessoas que podem perfeitamente trabalhar numa empresa, mas que não servem para a vida militar. nem toda a gente consegue lidar com cenários de stresse, como o afeganistão», explica ao sol fonte militar. uma pequena parte evidencia mesmo problemas mais graves de carácter psiquiátrico.

mais gordos e mais míopes

na lista de inaptidões nas provas médicas, consta ainda a detecção de substâncias psicoactivas, ou seja, drogas. aliás, segundo explica uma outra fonte, estes exames para detectar substâncias ilegais são feitos depois ao longo de todo o percurso militar.

muitos candidatos revelam a existência de drogas, «não tendo a noção de que a expulsão destas substâncias do organismo demora pelo menos dois meses», nota outra fonte militar ligada ao recrutamento.

além dos chumbos por questões psicológicas, há muitos jovens a reprovar por problemas físicos. segundo responsáveis militares, o estado físico dos jovens portugueses tem vindo a piorar.

grande parte dos ‘chumbos’ têm a ver com problemas de visão (30%) e de audição (7%). este número tem vindo a subir nos últimos anos, muito à custa dos novos hábitos dos jovens _– nomeadamente, o uso excessivo de headphones com música alta. «andam sempre com aquilo metido nos ouvidos», queixa-se um militar.

outro problema que está a aumentar é a obesidade. desde há alguns anos, os centros de recrutamento decidiram pesar os candidatos logo no momento de apresentação de candidatura. é desta forma que excluem imediatamente os mais gordos, que já nem são chamados a quaisquer testes. mesmo assim, no lote dos que passam essa primeira fase, ainda há depois 5% que são afastados – por obesidade e também por desnutrição.

«eu quando fui às provas para o exército chumbei por peso a mais: tinha 87 quilos e devia pesar 77 ou 78, visto medir 1,68 m» – conta, num fórum especializado em questões militares, um candidato que reprovou no ano passado. por ter o sonho de ser militar, o jovem adianta que, entretanto, começou a fazer exercício e dieta para chegar aos 70 quilos: «e aí vou concorrer novamente». mas há também o caso inverso. «três dos meus camaradas reprovaram por terem peso a menos: precisavam de mais 10 ou 15 quilos. eu tinha um quilo a menos, mas no fim lá consegui passar», recorda um outro jovem no mesmo fórum.

além do excesso de peso, outra dificuldade revelada pelos jovens é a falta de preparação física. segundo os dados do exército, a prova mais difícil para os rapazes são os abdominais – 65% não passam neste teste. já para as raparigas, o mais complicado são as flexões – 90% não as conseguem fazer.

«aparecem muitos jovens imaturos sem qualquer preparação física», conta fonte militar ligada aos serviços de recrutamento, acrescentando que grande parte destes problemas físicos resulta de um estilo de vida pouco saudável. «alguns têm excesso de peso, mas grande parte está mal preparado e não conseguem sequer fazer os exercícios básicos», como extensões de braços.

extensões de braço no solo é apenas uma das provas exigidas. além desta, e segundo o site oficial do exército, os candidatos têm de correr 2.000 metros em 12 minutos, executar 25 exercícios abdominais em um minuto, fazer cinco extensões de braços no solo, saltar um muro com 60 centímetros de altura e passar, de pé, um pórtico duplo de cinco metros.

as tabelas que definem os requisitos mínimos para a prestação do serviço militar foram elaborados em 1999 e os militares nem pensam em revê-la para atenuar os chumbos. «por que razão um jovem de hoje em dia corre menos que um rapaz de há 20 anos?», questiona fonte do exército.

licenciados aceitam ser praças

entretanto, com a crise, está a aumentar o número de licenciados que se candidatam para entrar nas forças armadas como praças. esta situação acontece, por exemplo, com enfermeiros que se inscrevem para desempenhar funções de socorristas.

no ano passado, para 1.800 incorporações, houve 10.400 candidatos, ou seja, praticamente seis candidatos para uma vaga. destes, 2.400 foram mulheres. quanto a idades, a maioria (58%) tem 18 e 19 anos.

por causa da diminuição nas incorporações, o exército já não faz divulgação massiva, mas, mesmo assim, recebe todos os meses entre 200 a 400 candidaturas nos centros de recrutamento. «eles nem sabem que especialidade querem. vão à procura de um emprego», explica fonte militar.

segundo estudos do centro de psicologia aplicada do exército, 25% dos candidatos têm um familiar que é militar e as mulheres ficam mais satisfeitas com o salário que lhes é apresentado do que os rapazes. entre as razões de desistência precoce, após terem sido recrutados, está o facto de ficarem colocados longe de casa _– 41% dos desistentes em 2010 apresentaram este motivo – e o desfasamento entre as tarefas desempenhadas e aquilo que pensavam que seria o seu trabalho.

segundo o exército, nunca aconteceu haver poucos candidatos declarados aptos para as vagas que são abertas na classe de praças (ou seja, a mais baixa). no caso dos sargentos e dos oficiais contratados já houve anos em que as forças armadas tiveram dificuldade em preencher os cursos que abriam, mas isso já não sucedeu em 2011: as vagas foram reduzidas e, por isso, o problema desapareceu.

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