Pela primeira vez, Egipto vota sem saber o resultado

na quarta-feira, um correspondente do britânico the guardian expôs resumidamente o que deve pairar na mente dos mais de 50 milhões de egípcios: pela primeira vez, partem para as urnas sem saberem de antemão quem será o vencedor das presidenciais. nas últimas três décadas, esse vencedor foi sempre o homem que liderou o país com…

na quarta-feira, um correspondente do britânico the guardian
expôs resumidamente o que deve pairar na mente dos mais de 50 milhões de
egípcios: pela primeira vez, partem para as urnas sem saberem de antemão quem
será o vencedor das presidenciais.

nas últimas três décadas, esse vencedor foi sempre o homem que liderou o país com um punho ditatorial até 11 de fevereiro do ano passado. nesse dia, hosni mubarak foi deposto, num acto que pontificou uma invasão das ruas por parte dos egípcios, que se uniram durante meses em protesto, numa revolta que,
simultaneamente, terminaria com o regime de mubarak e ajudaria a espoletar uma onda de
manifestação que ficou conhecida como a ‘primavera árabe’.

ontem, os egípcios regressaram às ruas para eleger, livre e
democraticamente, o seu primeiro presidente pós-mubarak. na corrida a 11
perfilam-se cinco caras principais, consideradas as favoritas a reunir mais
votos. entre eles estão dois antigos elementos do regime deposto em 2011: amr
moussa, ex-ministro dos negócios estrangeiros, e ahmed shafiq, último
primeiro-ministro de mubarak, que outrora se revelou contra a revolução de
depôs o regime.

hoje, no segundo dia do sufrágio, à saída de um centro de recolha de votos no cairo,
capital do país, shafiq foi recebido por uma multidão entusiasta, ora no seu
apoio, ora envolta numa ira a si dirigida. um vídeo amador mostrou pelo menos
duas pessoas a lançarem sapatos na sua direcção.

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no campo das palavras, amr moussa, o outro candidato com uma
‘herança’ do antigo regime, lançou também um pedido a shafiq, para que este se
retirasse da corrida às presidenciais, ao defender que o antigo
primeiro-ministro é «uma reprodução do passado». com este ataque, moussa
quererá desprender-se do seu próprio passado associado ao regime.

muitos analistas, de resto, têm antecipado que uma eventual
vitória de shafiq, embora improvável, poderia motivar uma nova onda de revolta
no país. porém, as sondagens que têm sido avançadas colocam ahmed shafiq a
perseguir os restantes principais candidatos, e aqui surge outro problema: o da
veracidade e credibilidade das sondagens.

rastos do passado

o dia de hoje está a ser marcado por episódios que envolvem
as eleições em polémica.

o the guardian tem citado relatos de correspondentes egipto
e grupos que estão a monitorizar as eleições, para contar que, por exemplo, um
apoiante de mohammed mursi, candidato da irmandade muçulmano, tem distribuído
alimentos à porta de um centro de votos.

um desses grupos, o hurra naziha coalition, revelou ainda
que um apoiante de shafiq foi detido pelas autoridades após ser apanhado a
distribuir dinheiro aos eleitores que votaram no seu candidato.

a par destes relatos, tem-se erguido dúvidas quanto às
sondagens à boca das urnas que têm sido reveladas. ashraf khalil, analista
político da foreign policy citado pelo diário britânico, explica que, assim como
as eleições livres no egipto, também as sondagens estão a dar os primeiros
passos no país.

«um dos aspectos menos noticiados do egipto é o papel
silencioso e obscuro desempenhado por uma agência governamental: a capmas, que pode
vetar qualquer questão incluída nas sondagens», explicou, já depois de
sublinhar que a recolha de dados é «parcialmente afectada por interferências
governamentais». no total, serão cerca de 30 mil os militares encarregues de
vigiar o processo eleitoral.

de resto, uma sondagem realizada pela cadeira de televisão
al-jazeera a 60 mil pessoas estima uma segunda volta das eleições entre
mohammed morsi, da irmandade muçulmana, e hamdeen sabahy, o candidato
nacionalista de esquerda e a figura mais populista das eleições.

na segunda-feira, o egypt independent, um jornal do país,
previu amr moussa e ahmed shafiq, os dois candidatos com ‘heranças’ do regime
de mubarak, seriam os favoritos a passar à segunda volta das presidenciais.

as urnas fecham hoje, e os resultados finais e oficiais só serão conhecidos a 29 de
maio.

diogo.pombo@sol.pt