Os homens da moda [vídeo

Num passeio pelas ruas de Paris surge um encontro inesperado com Nicola Formichetti – director da Vogue Japão, director criativo da Thierry Mugler e responsável pelos visuais excêntricos de Lady Gaga.

o mote para a edição impressa da dsection magazine estava lançado. «quero fazer qualquer coisa para vocês porque realmente estou a gostar do que estou a ver», disse formichetti aos dois jovens que o abordaram. «disse-lhe que tínhamos um site de moda e pedi para ele dar uma olhadela no telemóvel», explica filipe fangueiro.

filipe, 26 anos, é licenciado em jornalismo e durante cinco anos andou em trabalhos provisórios. licenciado em design, paulo meixedo, de 22, já tinha um gosto por moda após estagiar numa revista alemã sediada em portugal, a zoot magazine.

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em março de 2011 os dois jovens portugueses decidiram aventurar-se e lançaram uma revista exclusivamente dedicada à moda masculina em formato digital. «isto começou mais por brincadeira. foi aquele impasse de procura de trabalho. como já tinha trabalhado com moda queria continuar nessa área», explica paulo. aproveitando a lacuna existente no mercado português não estiveram com meias medidas. «vimos que faltava qualquer coisa a nível de moda masculina em portugal», acrescenta.

a revista começou em português mas, pouco tempo depois, para atender aos pedidos dos seguidores, começaram a escrever em inglês. «tínhamos pessoas do estrangeiro que nos escreviam a dizer que gostavam muito das fotografias e das produções mas que não conseguiam perceber o que estava lá escrito. então decidimos escrever em inglês para não nos cingirmos só à cultura lusófona», conta filipe. de facto, os internautas eram maioritariamente estrangeiros. «através das visualizações do site começámos a ver que muitos estrangeiros iam parar lá. as pessoas começaram a perguntar onde poderiam comprar a revista e nós dizíamos que não existia em papel».

a ideia de uma versão impressa, embora não estivesse posta de lado, também não estava prevista num futuro tão próximo. «pensámos em criar um projecto em papel, só que a conjuntura não ajudava e lançar um novo projecto em portugal é quase suicídio», explica o designer.

o encontro com nicola formichetti aconteceu em maio do ano passado e quatro meses depois lançaram a primeira edição em quatro continentes. «aquilo foi um bocado estranho porque foi muito imediato», confessa filipe. formichetti acabou por ser a capa da primeira edição. «foi tudo muito fácil e rápido e sem termos a noção do impacto que isto poderia ter».

o primeiro número da dsection esgotou em dois dias em nova iorque, onde hoje está em 96 lojas. vendem em lojas como a parisiense colette e na tate modern, em londres. estão nas bancas de cidades como tóquio, milão, sydney, rio de janeiro, seul, hong kong ou estocolmo.

a fasquia para a segunda edição estava elevada. foi então que formichetti sugeriu mariano vivanco, fotógrafo da dolce & gabbana e assíduo em revistas como a vogue, gq e elle. «fiquei branco porque era um dos meus ídolos», confessa paulo. a fasquia manteve-se e vivanco colaborou também na edição seguinte, que contou com uma entrevista a david gandy, conhecido pelo anúncio da fragrância light blue. «o mariano é quase o fotógrafo oficial dele. isto funciona muito como um grupo. estas coisas acontecem e pensamos que é só em filmes», explica paulo.

quanto à possibilidade de terem lady gaga na revista confessam que já esteve mais longe. «não é impossível. já tivemos o director criativo dela, sabemos que ela já viu a nossa revista e já tivemos o mariano, que a fotografou dezenas de vezes, portanto não é assim tão complicado».

em cada edição é explorado um tema. começou com black issue, seguindo-se a skin issue e the lovers. a próxima será «algo étnico, mais ligada à arte». a dsection também aborda temas como design e arte, ainda que a moda tenha um espaço privilegiado.

a revista bimestral é pensada, paginada e impressa em portugal. segue então para paris, de onde parte para todo o mundo. as produções dividem-se entre portugal e o estrangeiro, uma vez que não conseguiriam ter acesso a «determinadas marcas se as produções fossem todas feitas cá, ou então seria mais moroso o processo».

apesar de hoje contarem com 50 colaboradores, continuam a controlar todo o processo desde a concepção à impressão. a primeira revista de moda masculina made in portugal alcançou um sucesso sem precedentes. «quem sonha pensa em grande. nós sonhámos mas não sabíamos que íamos ter esta projecção».

rita.osorio@sol.pt