Líderes europeus usam receitas gastas

1. No fim da Cimeira de Chicago, uns saíram a falar de «apoio ao crescimento», outros a falar de prosseguir com a «consolidação orçamental». O fosso entre a França e Alemanha começa a cavar-se. Concorda?

já ouvimos essas palavras vezes sem conta. é de lamentar que não oiçamos uma nova expressão adequada aos tempos que vivemos.

os dirigentes andam a utilizar conceitos gastos e não mostram capacidade para iniciar um ciclo verdadeiramente novo. programas inovadores – como aconteceu no pós-guerra – podem contribuir para que as economias se movam. comunicados ou conferências de imprensa não mudam nada.

seja o que for que angela merkel e françois hollande digam, vão ter de se entender. se isso não acontecesse, então, o euro estaria definitivamente em risco. por enquanto, estamos em fase de ajustamento das ‘placas’, depois de alguns abalos eleitorais.

é quase caricato que, depois das eleições em frança e na grécia, se tenha começado a falar tanto de crescimento. abona pouco a favor das convicções dos dirigentes europeus com mais poder.

as economias movem-se por energia própria, pela sua dinâmica intrínseca, pela resultante da combinação de vários factores independentes de voluntarismos inconsequentes. dão importância aos sinais que os poderes lhes dão, mas conta, sobretudo, a certeza de um rumo.

a união europeia só tem sinais contraditórios e não tem tido rumo. a hora da verdade, a que a grécia está a chegar, vai obrigar a definições. entretanto, em portugal, vamos ouvindo os paladinos da consolidação pela consolidação a bradarem por crescimento. como seria, se estivessem eles no poder?

2. no passado fim-de-semana futebolístico, a vitória foi dos ‘fracos’: o chelsea na champions, a académica na taça de portugal. na imprevisibilidade do futebol estará parte da sua magia?

as vitórias da académica e do chelsea são uma lembrança de que nem tudo acontece, sempre, como os mais poderosos desejam.

como calculam, tenho muita pena que o sporting não tenha ganho a taça. mas, não tendo sido o meu clube, que seja um clube como a académica, até para despertar toda aquela enorme massa de adeptos que encheu as ruas de coimbra.

assisti pela televisão, a milhares de quilómetros de distância, à extraordinária recepção à comitiva da briosa. e aquilo foi a prova de que a académica existe, que tem uma grande massa associativa e que há ali um enorme potencial para ser mobilizado. juntamente com o sporting, o benfica, o porto e o braga, pelo menos, a académica é uma realidade própria com identidade de marca, com história e com potencial económico.

quanto ao chelsea, foi algo injusto. o bayern joga muito bem e, não ganhando, teve a tristeza de perder uma final perante os seus adeptos… mas os alemães não podem ganhar sempre. e, numa altura destas, um clube alemão ser campeão europeu não daria muito jeito…

3. como vê timor, 10 anos depois da independência? a ligação afectiva entre portugueses e timorenses parece ter sido um fogo-fátuo, uma ‘causa’ circunstancial…

dez anos de independência de timor-leste fazem lembrar, também, o quanto portugal é capaz de se bater por causas que parecem impossíveis.

claro que a alegria maior é dos timorenses. mas nós temos de vibrar com eles. a presença de cavaco silva nas cerimónias e o modo como foi recebido demonstram bem como os laços afectivos se mantêm. e as presenças do presidente da indonésia e da governadora-geral da austrália demonstram que feridas antigas estão a sarar.

escrevo este texto nas margens do índico, na capital de um país também membro da cplp: moçambique. aqui fala-se português mas conduz-se pela esquerda. aqui sente-se nas casas, em hotéis, em igrejas, a presença de uma época que passou.

moçambique segue o seu rumo, cada vez mais na ribalta dos que sonham com progresso, crescimento, qualidade de vida. os moçambicanos cuidam do seu futuro – mas recebem de braços abertosos portugueses que queiram investir, trabalhar. os laços afectivos que os portugueses conseguem estabelecer com outros povos são das nossas grandes riquezas.