portugal é o segundo país do mundo onde nascem menos crianças. só a bósnia tem um índice de fecundidade (número de filhos por mulher em idade fértil) inferior. «já se verifica um crescimento negativo da população, com mais mortes do que nascimentos, o que é alarmante», diz o especialista, professor na universidade de navarra. a média actual é de 1,3 filhos por mulher em portugal, quando na europa é de 1,6. há trinta anos que o país não consegue garantir a renovação natural da população, apresentado desde 1982 um índice inferior a 2,1 filhos por mulher em idade fértil.
«o governo tem que tomar consciência do problema e atacá-lo já, até porque a natalidade ajuda a relançar a economia». mais filhos é sinónimo de mais consumo e crescimento: «os filhos são um recurso valioso para o país, devolvem vinte vezes mais riqueza à sociedade do que aquilo que consomem».
um país de velhos, como o que se prevê para portugal, não tem futuro: «uma população envelhecida apenas consome muitos fármacos e camas de hospitais; desequilibra a balança, são muitos a depender do desconto de poucos». a inversão demográfica põe em causa a sustentabilidade económica e a coesão social.
«não há fórmulas mágicas para resolver o problema mas o governo tem que começar por repor a justiça e deixar de penalizar as famílias com mais filhos que neste momento pagam mais impostos face à capacidade financeira que têm», refere ana cid gonçalves, secretária geral da apfn (associação portuguesa das famílias numerosas). com o lema cada pessoa vale um, a associação propôs ao governo que seja adoptado o «critério do rendimento per capita, ou seja, o rendimento a dividir pelo número de pessoas que vivem desse rendimento» no cálculo do irs e a todos os domínios da fiscalidade e da ação social.
«a crise económica pode passar em meia dúzia de anos, mas a crise da natalidade, que tem um impacto imediato no consumo e na economia, tem consequências muito mais profundas e desastrosas a médio prazo para o país», lembra ana cid gonçalves.
a conferência, organizada pela apfn, decorre amanhã, entre as 9h e as 13h30, na fundação calouste gulbenkian, com a intervenção de vários especialistas em demografia, economia e políticas de família, na procura de soluções para contrariar a «inversão demográfica».