foi eleito um dos apresentadores preferidos das manhãs, ao lado de manuel luís goucha. a rádio ainda pode competir com a televisão?
a rádio pode e deve competir com a televisão, mas rádio e televisão não se podem substituir, podem complementar-se. no entanto, a rádio leva vantagem, porque pode ser ouvida onde a televisão não pode ser vista, designadamente nos carros. e o imediatismo da rádio sobrepõe-se ao da tv, que é um meio mais formatado. a rádio pode mudar a sua estratégia de um minuto para o outro.
ainda acredita que as pessoas podem voltar a ligar a rádio de manhã em vez da tv?
os programas da manhã das televisões têm a formatação da rádio. aquilo que se faz hoje é o que a rádio sempre fez – dar notícias, tempo, trânsito e até entretenimento. e, nesse sentido, a televisão tem roubado ouvintes à rádio. hoje, as casas não têm só um televisor na sala, têm no quarto e até na casa de banho. há homens que, enquanto se barbeiam, estão a ouvir televisão. não estão a ver, estão a ouvir. aí é que se vê a competição.
as próprias manhãs na rádio estão cada vez mais competitivas. isso cria alguma pressão?
neste momento, a rádio pode distinguir-se em rádios musicais e rádios generalistas. quem procura uma rfm, uma comercial, uma m80, quer ouvir música, com conteúdos, mas música. a renascença oferece muito mais do que isso: no nosso formato matinal, temos vários tipos de rádio: uma rádio musical, uma generalista e uma de notícias. nisso é que nos distinguimos. e, um dia, as pessoas vão perceber que para música têm os leitores de mp3.
uma rádio deve ser, nesse sentido, cada vez mais próxima?
a rádio tem de ser cada vez mais rádio. ponto final. uma rádio não pode ser um gira-discos gigante… isto é uma discussão de há muito. quando entrei para a rfm, há 24 anos, o canal foi acusado de ser um gira-discos gigante, porque fez a introdução da playlist em portugal, esse conceito de passar muita música, com menor intervenção do locutor. mas seguiu o seu caminho e é hoje a rádio líder.
mas antes não existiam outras plataformas para aceder à música.
no início, muitos dos discos que tocavam na rfm eram trazidos por um piloto que vinha de inglaterra. e ainda sou do tempo em que as pessoas chegavam às lojas e pediam um disco que ainda não tinha sido editado, pois já tinha passado na rádio. mas, hoje, temos música em todo o lado e a rádio tem de oferecer aquilo que os ipods não oferecem.
e isso é o quê: companhia?
companhia e o conceito antigo da voz amiga. acredito que ainda existe, porque há pessoas que mo dizem. mas não fazemos nada de extraordinário; no meu caso, limito-me a fazer na rádio o que sou na vida. há quem diga que a rádio é o maior palco do mundo, mas eu não preciso de interpretar um papel para mostrar o que sou. aquilo que sou é o que está ali – as pessoas sabem o nome da minha mulher, dos meus filhos, sabem qual é o meu clube, do que gosto ou não gosto de comer.
mas, pelo menos, coloca a voz de maneira diferente?
é evidente que temos de ter uma voz diferente, radiofónica, mas, hoje em dia, a colocação já é… bem, eu nunca coloquei a voz, como aqueles locutores com vozeirões que servem para fazer spots publicitários, mas que depois dizem como vai estar o tempo da mesma forma que vendem um produto de limpeza.
na sua estreia no programa manhãs da renascença, ficou sem voz devido a um jogo do sporting?
estava em casa a ver o jogo, com aquele que é hoje o director da rfm, o antónio mendes. era um salgueiros-sporting, que decidia o título. como sportinguistas que somos, ao segundo golo já chorávamos agarrados um ao outro. no dia a seguir, até fui ao professor mário andrea e ele disse-me que precisava de tomar cortisona. mas achei que não valia a pena, porque não tinha gritado – tinha sido tudo uma questão de emoção.
como resolveu a situação?
foi grave. o antónio sala até me tinha ligado a dizer: ‘paulino, por favor, tenha cuidado, tem uma grande responsabilidade amanhã’. eu ia começar uma nova fase das manhãs na renascença, porque o sala tinha saído, depois tinha havido outra experiência, até resolverem chamar-me. como foi tudo preparado em segredo, pus o meu filho de quatro anos a ler um spot que dizia: ‘a partir de dia 15, não perca o programa do meu pai’. depois, aparecia um vozeirão a dizer: ‘dia 15 saiba quem é o pai desta criança’. mas no dia 15 de maio, fez agora 12 anos, ninguém ficou a saber, porque apareci rouco. fiquei de baixa.
era um fã do antónio sala. como reagiu quando ele o convidou para o substituir?
o sala era uma referência. lembro-me de ir para a escola e de todos comentarmos, nos intervalos, o que tínhamos ouvido no despertar. a rádio tinha um outro impacto, ao ponto de ser notícia nos telejornais, quando o antónio sala fazia o despertar ao vivo. por isso, quando ele me lança o desafio, neste gabinete, e me diz que eu sou o substituto natural dele, só poderia dizer sim.
está já há 26 anos na rádio, mas também fez televisão.
colaborei no programa haja música, da rtp, que me deu um gozo enorme e me fez crescer depressa. a tv é uma máquina muito pesada e esse peso cai-nos nos ombros, sobretudo porque eu era imberbe e fui posto à frente de reportagens com bandas de música sem conhecer nada do meio. mas confiaram em mim e muitas das pessoas que conheço hoje conheci-as nesse programa. era fã dos gnr e dos xutos, por isso, onde fossem os xutos, onde fossem os gnr, eu ia atrás.
também costuma fazer de dj. se o convidassem para pôr música na festa dos seis anos do sol, fazia o arranque da pista com que som?
com ‘sunshine reggae’.