Gigantes da construção aguentam choque da crise

As maiores empresas de construção portuguesas estão, apesar de tudo, a conseguir manter o ‘barco à tona no meio da tempestade’. Com a produção do sector a registar a maior queda da União Europeia em Portugal, o ‘santo padroeiro’ estão a ser os negócios internacionais.

sete das dez maiores construtoras portuguesas registaram, em conjunto, um recuo no volume de negócios de 1,7%, entre o final de 2010 e o final de 2011. em conjunto, as gigantes do sector que já divulgaram resultados relativos a 2011 facturaram 5.508 milhões de euros, menos 97 milhões do que um ano antes.

das sete empresas, apenas a mota-engil e a monteadriano conseguiram subir a facturação. esta última, após um processo de reestruturação, aumentou em 28% a facturação, para 254 milhões de euros, tornando-se na quinta maior empresa do sector em portugal.

apesar de negativos, estes dados demonstram que a principal ‘bóia de salvação’ das construtoras tem sido a estratégia de internacionalização. é que, segundo dados divulgados pelo eurostat, o índice de produção do sector em portugal caiu 12,2% entre 2010 e 2011, e a tendência está a agravar-se: a queda no final do primeiro trimestre deste ano em relação ao período homólogo foi de 16,4%, o maior tombo em toda a união europeia.

na base do problema está, por um lado, o corte radical no investimento público e, por outro lado, a falta de financiamento e de confiança do lado do sector privado, que tem cancelado investimentos previstos.

estes dados sublinham a necessidade do futuro das construtoras passar pelo reforço da estratégia de internacionalização. um trabalho que já começou a ser efectuado há alguns anos pelas empresas. as sete maiores construtoras desenvolvem já actividade em 24 países espalhados pela europa, áfrica e américa (ver mapa). de países subdesenvolvidos como o malawi até às superpotências como os eua, as construtoras portuguesas viajam pelo mundo para sobreviverem.

os destinos mais procurados são angola, moçambique e brasil, assumindo a lusofonia um papel determinante nos investimentos efectuados. em angola, por exemplo, estão presentes as sete maiores construtoras.

cortes de custos afectam trabalhadores

os lucros afundaram para 118 milhões negativos em 2011, contra 146 milhões positivos em 2010. este resultado está muito influenciado pelos prejuízos de 200 milhões de euros registados pela teixeira duarte, a segunda maior construtora portuguesa (em 2010 obteve 46 milhões de euros de lucros). mesmo retirando o resultado anormal da construtora os lucros caem de 100 para 82 milhões de euros.

com menos obras e uma rentabilidade mais fraca, as empresas têm optado por diminuir custos. a mota-engil, a conduril e a monteadriano até aumentaram o número de trabalhadores, mas a tendência do sector tem sido a de reduzir o número de pessoal. em conjunto, as sete maiores construtoras cortaram 2,8% do número de trabalhadores, um ajustamento superior à queda do volume de negócios (1,7%). estas companhias empregavam no final de 2011 43.646 pessoas, menos 1.263 do que no ano anterior. a obrecol, por exemplo, sofreu uma queda de 9% no volume de negócios, mas cortou o número de trabalhadores em 21%.

a saúde financeira dos pesos-pesados é melhor do que a das pequenas e médias empresas do sector. encerram doze construtoras por dia. na semana passada, por exemplo, entrou em processo de insolvência a ensul meci, arrastando consigo 500 trabalhadores.

e os riscos são para todos. a edifer, uma das maiores empresas do sector, ressentiu-se da crise e esteve em risco de falência. um grave problema do sector é o endividamento. estado e privados não recebem, nem pagam, gerando um efeito bola-de-neve.

frederico.pinheiro@sol.pt