O fim da História revisitado

Foi há 20 anos que Francis Fukuyama publicou o ensaio sobre a natureza e destino da História contemporânea – O Fim da História e o Último Homem. Este ensaio fora inicialmente um artigo em The National Interest, em 1989.

integrando e reconhecendo os acontecimentos dos últimos 20 anos, que tinham visto o fim dos autoritarismos nacionais da europa do sul e da américa latina e o fim da união soviética em 1991, o livro pretendia ressuscitar um tema de hegel que, a propósito do advento do estado constitucional, falara dois séculos antes em «fim da história».

a globalização da democracia e do mercado, causas e consequências, também, do fim dos autoritarismos e totalitarismos levaria a perguntar se haveria, racional e existencialmente, um modelo competitivo com a democracia liberal. fukuyama olhava fenómenos como o fascismo e o comunismo na óptica de um académico anglo-saxónico na crista da vaga do fim da guerra fria. tendia a racionalizar o acontecido.

e mostrava também algum maniqueísmo – os bons vencem e, porque estão certos moralmente, têm sucesso. um desmancha-prazeres pessimista poderia perguntar se não era o contrário – se por terem sucesso é que passavam a ser bons.

a questão levantada era interessante no repetir do tema hegeliano do fim da história: a democracia liberal seria agora em ‘fim da história’, resolvendo as contradições intrínsecas dos regimes anteriores – da monarquia absoluta, do liberalismo aristocrático, do comunismo, do fascismo.

vinte anos depois, o que é que isto vale? teoricamente, em forma, em retórica, em linguagem, a proposição de fukuyama parece consolidada: embora permaneçam outros regimes políticos – como a república popular da china, o reino saudita ou os sobreviventes do comunismo como cuba e a coreia do norte – eles não fazem proselitismo dos seus modelos, deixando a democracia liberal sem concorrência.

na prática, largas áreas permanecem fora da globalização democrática: partes significativas da áfrica subsaariana e do mundo islâmico (apesar das primaveras árabes), enquanto outras como a rússia enveredaram por formas de autoritarismo dirigista que consideram mais de acordo com os interesses nacionais. a religião e o nacionalismo, duas forças também referidas pelo autor, actuaram aqui com a sua mão invisível.

por outro lado, perante a crise económico-financeira do mundo euro-americano, sobretudo a eurolândia, o optimismo histórico inerente às teses de fukuyama vai passar por uma prova decisiva. e a volatilidade – que passou a ser característica dos estados e dos mercados – é capaz também de chegar aos regimes.