mas não faz mal. celebro à mesma com a família real inglesa e com os irredutíveis monárquicos britânicos. nos tempos que correm, a alegria e entusiasmo dos participantes neste doce anacronismo (para uns) ou nesta sensata formulação de estado (para outros) são muitíssimo contagiantes. ou como diria o nobre povo, provoca uma certa inveja no bom sentido. quem diria que passados tantos séculos depois de henrique viii, encontrássemos as tradições mais comoventes em inglaterra e no vaticano? ou talvez apenas acredite que a pompa e a circunstância só ficam bem na exultação da boa vontade das instituições e do carinho dos súbditos e dos fiéis.
felicitações entusiastas
antónio coimbra de matos, pioneiro da psicanálise em portugal, fundador da associação portuguesa de psicanálise e psicoterapia psicanalítica, autor de inúmeras obras, entre as quais a depressão e mais amor, menos doença, professor estimado pelos alunos e autor respeitado pelos leitores, recebeu um importante prémio internacional. sabia? eu soube por causa do facebook. o prémio foi atribuído em meados de maio pelo ifpe – the international forum for psychoanalytic education –, que todos os anos premeia uma personalidade associada ao ensino da psicanálise. coimbra de matos foi galardoado com o distinguished psychoanalytic educator award 2012, e não houve ninguém no país a saudar a distinção que nos deve encher de orgulho. o silêncio sobre o prémio diz infelizmente bastante acerca do país que somos: indiferente ao que merece ser louvado. a nossa crise também se deve a esta falta de generosidade com quem merece reconhecimento.
33 anos
pedro hernandez confessou ter morto etan patz, de seis anos, em 1979. mesmo passados 33 anos, pensava que a confissão resolvia o crime. mas parece que não. segundo um artigo no the new york times, os especialistas têm muitas perguntas e poucas certezas. por exemplo, se for verdade que hernandez é um esquizofrénico bipolar, como foi capaz de formar uma família? terá cometido mais crimes? a motivação sexual é habitual neste tipo de casos. mas pedro hernandez não fez nada. diz que assassinou a criança só porque estava ali à mão, perto do seu local de trabalho. há quem diga que a proximidade do emprego com o sítio do rapto tenha desenvolvido no assassino um sentido de responsabilidade ou culpa. e assim chegou à confissão, ainda que tardia. é quase impossível que a polícia descubra tudo sobre o que se passou. não levem a mal, mas, pela parte que me toca, é indiferente. se confessou, então alguma coisa deve ter feito.
à mesa
a pizzaria a mesa no espaço lx factory, em alcântara, é assim chamada porque tem uma única mesa. tem espaço para sentar cinquenta pessoas em cadeiras diferentes, nem todas confortáveis. numa mesa de quatro, por exemplo, os lugares estão marcados entre os recipientes de metal com o símbolo do restaurante. não são para água nem para vinho: são marcadores. e é bom ligar a marcar um espaço na mesa comprida porque enche depressa. o motivo é o correcto: as pizzas são deliciosas, fininhas, crocantes, com a massa fresca e feita na hora. não quero de maneira nenhuma minimizar os outros pratos (as saladas enroladas com massa de pizza parecem um presente da fortuna), mas as pizzas criativas, feitas com os ingredientes à escolha do cliente, são o sonho realizado de kramer, na sexta temporada de seinfeld (cf. ‘the couch’). outro bom motivo é o preço: razoável. só mais um: o tiramisú, por minerva! para a próxima, não divido.
até lá
há dias, num zapping radiofónico, parei na tsf a ouvir teodora cardoso, que falava da nossa situação de dívida e crise de um modo seriamente optimista. dizia a presidente do conselho de finanças públicas que era fundamental cumprirmos o acordo com a troika. ao contrário do que acontece na maioria dos casos em que nos dizem o mesmo, desta vez havia uma justificação séria para o nosso futuro: as consequências do cumprimento do acordo estão relacionadas com a recuperação da nossa autonomia. cumprir o acordo restaura a confiança dos investidores em portugal. isto não é uma previsão: é real. ninguém percebe o que são os mercados, mas sabemos o que são os investidores, que criam emprego e usam os nossos recursos (para benefício deles e nosso). mas atenção: não basta cumprir o acordo. segundo teodora cardoso, temos de ‘usar a cabeça’ para sermos autónomos. acredito que vai correr tudo bem. o pior é enquanto não corre.