Uma tradição de família

Vastas planícies, algumas florestas e extensos olivais, eis a paisagem dominante do distrito de Portalegre, onde vamos encontrar, em Casa Branca, a Herdade do Mouchão.

foi para esta região que thomas reynolds veio no início do século xix, trazendo um objectivo bem definido: o negócio da cortiça. três gerações depois, o seu neto john reynolds adquiriu uma propriedade de 900 hectares, denominada herdade do mouchão. aqui, a família acabou por juntar à actividade corticeira a produção de vinhos. plantaram-se as vinhas e construiu-se uma adega tradicional em 1901, com grossas paredes de adobe e um elevado pé direito.

a john reynolds se deve ter trazido de frança para portugal as primeiras plantas da casta alicante bouschet, que é o porta-estandarte do mouchão. no alto alentejo encontrou condições que lhe permitiram excelentes resultados enológicos. a herdade passou por várias fases e depois de ter sido recuperada das expropriações agrícolas, após o 25 de abril, continuou na posse dos reynolds.

a família decidiu preservar a vindima tradicional e a fermentação das uvas em lagares de pedra com pisa a pé.

hoje, têm 39 hectares de vinha em várias parcelas, sendo a vinha dos carrapetos – em solo de aluvião – a mais típica, vocacionada principalmente para a produção de uvas alicante bouschet, que devido à sua polpa vermelha escura confere uma cor intensa aos vinhos. esta vinha, situada a 200 metros de altitude, desfruta de insolação intensa, temperaturas elevadas ao longo da maturação e chuvas esporádicas. nas outras, situadas em zonas mais elevadas, plantaram-se outras castas: trincadeira, aragonez e castelão (tintas) e antão vaz, arinto e fernão pires (brancas).

john fordyce, o escocês de 50 anos responsável comercial pelo mouchão, foi o nosso cicerone, com ele provámos o vinho aqui destacado: o mouchão tinto 2006, da responsabilidade do enólogo paulo laureano. tem uma cor granada profunda, aromas de frutos negros, especiarias e eucalipto. na boca mostra-se fresco e com elegante estrutura. um prazer para o palato, que recebe bem os 14,5% do seu teor alcoólico. a acompanhá-lo, comemos torresmos e plumas de porco. excelente. l

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