o jornalismo que se faz hoje é muito diferente do que se fazia na av. de berna, a primeira sede da tvi?
a substância do jornalismo mantém-se igual ao que era naquele espaço pequenino, ao pé da igreja [de fátima, em lisboa], porque a ética, o rigor e a isenção continuam. agora, os meios são completamente diferentes. se me disser ‘preciso de fazer um directo’, hoje há dinheiro para o fazer. dantes não.
havia dinheiro para fazer o quê?
para fazer dois jornais, um à uma da tarde e outro às oito da noite. e ainda um que era o ponto final.
na época, a redacção da tvi era muito jovem.
demasiado jovem… mas também havia seniores, com memória, e isso é fundamental. uma redacção sem memória não é uma redacção em condições. por outro lado, os jovens tinham muito boa vontade, mas pouca preparação. foi dificílimo.
dificílimo porquê?
porque faltavam dois meses para entrarmos no ar e não sabíamos se íamos conseguir. eram poucos jornalistas, eram poucos meios e tínhamos a noção de que era complicado pôr uma televisão no ar naquela época.
mas o entusiasmo que se vivia na tvi era semelhante, por exemplo, ao que se viveu quando a nova direcção assumiu funções em 2011?
não tem nada a ver. aquele entusiasmo inicial era naïf, sonhador. parecia que íamos construir um brinquedo novo, e construímos. talvez não da melhor forma, porque não tivemos capacidade nem dinheiro para isso…
como era ter o padre antónio rego na direcção de informação?
tinha a capacidade e a noção do que é ser jornalista, do que é ter ética, do que é podermos falar dos assuntos. não havia tabus. e, no início, tínhamos uma coisa muito importante que eram as reuniões no final dos telejornais. quantas redacções fazem isso? era uma direcção nova, mas com uma componente de sonho que tinha o seu fascínio.
no consulado de josé eduardo moniz, disse que a tvi «era o canal que as pessoas queriam ver». estando a informação da tvi de novo na liderança, que resposta daria hoje?
que esta é a informação que as pessoas querem ver.
identifica-se mais com josé alberto carvalho e judite sousa?
identifico-me muito mais, porque há outra forma de diálogo, porque posso dizer ‘não gosto’ e posso questionar a direcção naquilo que me diz respeito. por outro lado, agora tem-se um espectro político muito maior, o que não acontecia. mas seria ingrata se não referisse que foi josé eduardo moniz que me lançou, e que eu sou um produto dele, tal como toda uma geração que foi parar à tvi e à sic. com ele também nunca me coibi de dizer o que pensava, por isso, ele sempre soube quem deveria mandar fazer certas reportagens. nesse sentido, quem estava mal era eu, por isso, acabei no internacional.
e também fez a edição dos conteúdos do big brother. como reagiu quando lhe deram essa tarefa?
apeteceu-me dizer que não, mas era isso que eles queriam. então, fiz a informação de um reality show como achava ser a mais correcta. explicava, por exemplo, o que levava as pessoas a concorrerem, como eram pressionadas quando saíam da casa, brincávamos com os amores e desamores, fazíamos o perfil do marco, da marta… também escrevia textos e tentava dar-lhes um cunho de infotainment, sem desvirtuar os meus princípios. foi difícil.
por que não mudou de canal?
porque sou teimosa.
mas teve oportunidade de sair?
sim.
para regressar à rtp?
não. para a sic.
arrepende-se da decisão que tomou naquela época?
não, porque sei que ia desistir de uma coisa onde tinha chegado primeiro. e não dava… o meu marido estava lá a trabalhar e eu tenho a vida profissional separada da dele. não queria que pensassem que tinha sido por isso que me tinham chamado.
em 2009, quando regressou aos ecrãs, após 12 anos de ausência forçada, estava tão ansiosa como quando começou aos 18?
a ansiedade que senti no início de portugal português, na tvi 24, foi maior, porque me deram só o título do programa e não havia o conceito. depois, quando apareci a primeira vez sabia lá o que era a televisão. aos 18 anos, havia uma inconsciência total, e apresentar era a mesma coisa do que estar a tomar café. agora, olho para trás e penso: ‘qual seria a credibilidade de apresentar um jornal com aquela idade?’. eu não tinha background. mas alguma coisa teria de ter, porque fiz 50 anos e ainda cá estou.
em portugal português, já conseguiu entrevistar todos os presidentes de câmara que quis?
em três anos já repeti, porque alguns não aceitam vir ao programa. talvez não se sintam à vontade ou preparados, outros dizem que não vêm ao sul ou acham que aquilo pode ser prejudicial. é que eu não me coíbo de fazer as perguntas que me apetece.
e também costuma dar a sua opinião. criticam-na por isso?
criticam e eu também me critico. mas atenção: o meu registo mais interventivo acontece no discurso directo, porque tenho de fazer o contraditório. as pessoas que intervêm no programa julgam que só existe uma verdade, e que essa verdade é universal. por isso, às vezes, faço de advogada do diabo. é engraçado, porque esse é um registo que nunca julguei vir a ter.
é casada com o director-geral de conteúdos da rtp. torce pelos dois canais?
sempre. a rtp é a minha casa mãe. na tvi, brincamos imenso por causa disso, mas não o vejo como uma disputa entre o luís marinho e a paula magalhães. eu discuto imenso a rtp, se se deve ou não contratar…
o futre, por exemplo?
nesse caso, ai eu ralada com isso!