a insatisfação dos credores externos face aos interesses de alguns grupos tem sido crescente nas últimas avaliações, segundo confirmou ao sol fonte próxima das negociações. desde o início, que os responsáveis da comissão europeia (ce), fundo monetário internacional (fmi) e banco central europeu (bce) foram claros em dizer que o êxito do programa depende, sobretudo, das reformas estruturais e menos do equilíbrio das contas públicas – em que até admitem uma eventual folga, por motivos exógenos.
logo após a primeira visita, em agosto de 2011, estes salientaram que «as grandes mudanças estão ainda por concretizar e a determinação das autoridades será decerto posta à prova pela forte oposição dos interesses instalados».
passado quase um ano, a troika diz que pouco mudou, mantém os avisos e sobe de tom. no comunicado da última avaliação, a quarta terminada esta semana, os credores salientam que o governo fez apenas «alguns progressos» na redução de «encargos indevidos» sobre os consumidores, numa alusão às rendas na energia, em particular. e aconselha o executivo de passos coelho «a uma maior determinação para concretizar reformas que podem atingir interesses instalados sensíveis do ponto de vista político e económico». a maior determinação ocorre após dois pedidos sucessivos de «esforços adicionais», em novembro de 2011 e em fevereiro de 2012, para cortar o sistema de interesses destinado a maximizar lucros em sectores protegidos como a energia e profissões regulamentadas.
por exemplo, o sol sabe que na negociação das rendas da energia com a edp, o ministério da economia queria ir mais longe do que o pacote acordado, mas que por indicação das finanças não o fez. ace e o fmi mostram-se desgastados e surpreendidos com o poder da empresa liderada por antónio mexia.
mas existe também um certo desconforto com a banca portuguesa, nomeadamente com as exigências nas negociações para as condições de acesso à linha de recapitalização da troika e pela manutenção da restrição das condições do crédito. este mal estar com os interesses instalados na economia e política portuguesa serão mais evidentes quando forem divulgados os relatórios da quarta revisão.
portugal voltou a passar no exame e a ter direito a um desembolso de 4,1 mil milhões de euros que chegará em julho. no total, o país já gastou 75% do seu envelope financeiro de 78 mil milhões de euros, 12 dos quais destinados ao sector bancário. face às restantes avaliações a nota foi a mesma: «programa no bom caminho, embora subsistam alguns desafios». o maior problema agora chama-se desemprego – uma preocupação «premente» – que está a afundar o consumo e a deteriorar as contas da segurança social, pondo em risco a meta do défice orçamental (4,5% do pib) que é «ambiciosa», mas «concretizável».
*com tânia ferreira